domingo, 28 de fevereiro de 2010
Parabéns Ricardo
Hoje o blog do meu amigo Ricardo Leitner O Tertúlias faz dois anos. Ricardo é incansável em suas postagens, principalmente sobre cinema diria mesmo que é um perfeccionista! Tem também ótimas postagens sobre ballet e sobre a vida.
Ainda não o conheço pessoalmente, mas está chegando a hora.
Rick beijos e parabéns da amiga Paçoca
sábado, 27 de fevereiro de 2010
um poeta e um escritor dois mestres
Carlos Drummond de Andrade
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José ?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José ?
E agora, José ?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora ?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José !
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?
Há versos célebres que se transmitem através das idades do homem, como roteiros, bandeiras, cartas de marear, sinais de trânsito, bússolas – ou segredos. Este, que veio ao mundo muito depois de mim, pelas mãos de Carlos Drumonnd de Andrade, acompanha-me desde que nasci, por um desses misteriosos acasos que fazem do que viveu já, do que vive e do que ainda não vive, um mesmo nó apertado e vertiginoso do tempo sem medida. Considero privilégio meu dispor deste verso, porque me chamo José e muitas vezes na vida me tenho interrogado: “E agora José?” Foram aquelas horas em que o mundo escureceu, em que o desânimo se fez muralha, fosso de víboras, em que as mãos ficaram vazias e atônitas. “E agora José?” Grande, porém, é o poder da poesia para que aconteça, como juro que acontece, que esta pergunta simples aja como um tónico, um golpe de espora, e não seja, como poderia ser, tentação, o começo de interminável ladainha que é piedade por nós próprios. Em todo caso, há situações de tal modo absurdas(ou que pareceriam vinte e quatro horas antes), que não se pode censurar a ninguém um instante de desconforto total, um segundo em que tudo dentro de nós pede socorro, ainda que saibamos que logo a seguir a mola pisada, violentada, se vai distender vibrante e verticalmente afirmar. Nesse momento veloz tocara-se o fundo do poço. Mas outros Josés andam pelo mundo, não o esqueçamos nunca. A eles também sucedem casos, desencontros, acidentes, agressões, de que saem às vezes vencedores, às vezes vencidos. Alguns não têm nada nem ninguém a seu favor, e esses são, afinal, os que tornam insignificantes e fúteis as nossas penas. A esses, que chegaram ao limite das forças, acuados a um canto pela matilha, sem coragem para o último ainda que mortal arranco, é que a pergunta de Carlos Drumonnd de Andrade deve ser feita, como um derradeiro apelo ao orgulho de ser homem. “E agora José?” Precisamente um desses casos me mostra que já falei demasiado de mim. Um outro José está diante da mesa onde escrevo. Não tem rosto, é um vulto apenas, uma superfície que trem como uma dor contínua. Sei que se chama José Junior, mas mais riquezas de apelido e genealogias, e vive em São Jorge da Beira. È novo, embriaga-se, e tratam-no como se fosse uma espécie de bobo. Divertem-se à sua custa alguns adultos, e as crianças fazem-lhe assuadas, talvez o apedrejem de longe. E se isto não fizeram, empurraram-no com aquela súbita crueldade das crianças, ao mesmo tempo feroz e cobarde, e o José Junior, perdido de bêbado, caiu e partiu uma perna, ou talvez não, e foi para o hospital. Mísero corpo, alma pobre, orgulho ausente - “E agora José?” Afasto para o lado meus próprios pesares e raivas diante deste quadro desolado de uma degradação, do gozo infinito que é para os homens esmagarem outros homens, afogá-los deliberadamente, avilta-los,fazer deles objecto de troça, de irrisão, de chacota-matando sem matar,sob a asa da lei ou perante sua indiferença.Tudo isto porque o pobre José Júnior é um José Júnior pobre.Tivesse ele bens avultados na terra ,conta forte no banco, automóvel a porta-e todos os vícios lhe seriam perdoados.Mas assim, pobre, fraco e bêbedo, que grande fortuna para São Jorge da Beira.Nem todas as terras de Portugal se podem gabar de dispor de um alvo humano para darem livre expansão a ferocidades ocultas. Escrevo estas palavras a muitos quilômetros de distância, não sei quem é José Júnior, e teria dificuldade em encontrar no mapa São Jorge da Beira.Mas estes nomes apenas designam casos particulares de um fenômeno geral:o desprezo pelo próximo, quando não o ódio, tão constantes ali como aqui mesmo, em toda parte, uma espécie de loucura epidêmica que prefere as vítimas fáceis.Escrevo estas palavras num fim de tarde cor de madrugada com espumas no céu, tendo diante dos olhos uma nesga do Tejo, onde há barcos vagarosos que vão de margem a margem levando pessoas e recados.E tudo isto parece pacífico e harmonioso como os dois pombos que pousam na varanda e sussurram confidencialmente.Ah, esta vida preciosa que vai fugindo,tarde mansa que não será igual amanhã, que não serás, sobretudo o que agora és. Entretanto,José Júnior está no hospital, ou saiu já e arrasta a perna coxa pelas ruas frias de São Jorge da Beira.Há uma taberna, o vinho ardente e exterminador, o esquecimento de tudo no fundo da garrafa,como um diamante, a embriaguez vitoriosa enquanto dura.A vida vai voltar ao princípio.Será possível que a vida volte ao princípio?Será possível que os homens matem José Júnior?Será possível? Cheguei ao fim da crônica, fiz o meu dever.” E agora, José?” Crônica retirada do Livro do autor A Bagagem do Viajante. |
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Fim de Semana no Rio
Charles Landseer (1799-1879) é considerado um dos mais importantes artistas viajantes que visitaram o Brasil nas duas décadas posteriores a 1808, ao lado de Nicolas Antoine Taunay, Jean-Baptiste Debret, Thomas Ender, Johann Moritz Rugendas, Augustus Earle e do botânico William John Burchell, este também integrante da missão Stuart. (texto tirado do site do IMS). Visite o site e veja como estas obras foram parar no acervo do Instituto Moreira Salles e veja também as fotos das aquarelas!
As aquarelas são lindíssimas, com uma riqueza de detalhes impressionante. No mais, muito sol, muito calor. Dias lindos!!!
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Ora Bolas!
Acho que já disse aqui que adoro bolinhas. Srta 12 apareceu estes dias com umas bolinhas no braço. As bolinhas doem e ardem, mas as meninas na dúvida não perdem o bom humor.
Encontrei esta musiquinha, uma espécie de rap escrita num caderno velho.
Bolinhas no braço
Mari tem bolinhas no braço
Por isso não lhe dou um abraço
Elas devem arder
Mas o que eu posso fazer?
Nada vai fazer parar de doer
Talvez uma pomada faça melhorar
Mas se for assim eu vou vomitar
Refrão {Bolinhas no braço
Ninguém dê mais um passo
Bolinhas no braço
Mari quer um tazo?*}
Será que foi uma mosquinha?
Uma abelha, mosquito ou aranha
Será só uma espinha
Ou ela comeu muita lasanha
Refrão {Bolinhas no braço
Ninguém dê mais um passo
Bolinhas no braço
Mari quer um tazo?}
Mari está passando mal
Como posso fazer o final
Talvez se o braço melhorar
Nenhuma música terei de cantar.
Refrão {Bolinhas no braço
Ninguém dê mais um passo
Bolinhas no braço
Mari quer um tazo?
* obs: Tazo é uma fichinha que vinha de brinde num biscoito e que elas colecionavam quando pequenas.
Srta 14 escreveu esta musiquinha a pedido da irmã enquanto esperava ela tomar banho!
Acabo de voltar do pediatra com a srta 12 e as bolinhas tem um tratamento chato e demorado além de cara. Mas no final tudo acaba bem.
A ilustração das bolinhas me foi dada pelo meu querido amigo Jôka que nunca deixa de me ajudar prontamente. Um beijo para Você Jôka!
...Então, acho que não preciso dizer que não gostei nada destas malditas bolinhas, a não ser pelo fato de terem gerado esta postagem e a musiquinha de srta 14.
sábado, 13 de fevereiro de 2010
Só os poetas me consolam
Deixo vocês com o poetinha que sabe das coisas.
A benção meus novos seguidores Saravá. Sejam bem vindos!!!
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Fim de semana no Rio
Deu no Jornal que no fim de semana ia fazer um calor de oitenta graus. Eles não disseram assim. A menina do tempo bonita e atenciosa disse que ia fazer 40 graus celsius no Sábado e quarenta no Domingo. Eu que quando ouvi isto já me senti com a língua para fora como um cachorro que acaba de chegar de uma rinha.
Os blocos que se multiplicam, mais que os problemas da natureza, da saúde e da segurança no Rio de Janeiro, iam sair em diversos horários e bairros tudo ao mesmo tempo agora!Os nomes dos blocos são algo: Simpatia é Quase Amor, Vem ni mim que sou facinha, Suvaco do Cristo, Imprensa que eu Gamo, Meu Bem Volto Já, Fogo na Cueca, Xupa mas não baba... Isso para citar apenas alguns. Qualquer dia destes vamos ter mais blocos que foliões, já temos mais blocos que ruas.
Estava formado o caos total para o fim de semana e eu não iria para Pampa-linda.
Fui fazer um programa alternativo.
Mamãe me chamou para um café-da-manhâ num café que nós duas adoramos.
Conversamos bastante, falamos da nossa vida e da dos outros é claro. Comemos bastante e bebemos mais ainda. Suco de melancia, ice tea de maçã da casa, chocolate quente, chá cremoso, água com gás, água sem gás...
Depois o marido ligou para irmos a uma Exposição de Grandes Veleiros no Pier da Praça Mauá.
Mesmo com o calor Senegalês até que nos divertimos muito. Eram veleiros de 10 países com destaque ao Miranda que é o mais antigo, ao da Colômbia que exibia uma enorme e linda bandeira daquele país. Ao Cisne Branco, nossa prata da casa.
O calor era tanto que volta e meia um carro pipa regava os visitantes. Srta 14 se esbaldou. Esquecemos de levar dinheiro mas contando as moedas consegui comprar um boné que estampa meu pseudônimo antigo da Oficina da Crônica (Miranda).
Depois deixamos srta 14 em casa e fomos almoçar num Restaurante Peruano. Só tentamos, mas isso conto depois em outra postagem.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Dois brancos e um amarelo
E tinha também um azul e mais outros brancos. Eram pentes ofertados a Yemanjá a Rainha do Mar.
Acordei cedo e, antes das sete horas já estava caminhando à beira mar. Praia de Copacabana, a princesinha do mar.
Um caminhão ia a minha frente arrancando da areia o lixo superficial nela contida. A praia quase vazia. Junto ao mar, algumas pessoas ofertavam a Yemanjá. Frutas lindas, maçãs, peras, pêssegos, mamão e melão cortados como nos hotéis.Fartura. garrafas de sidra e até uma de champange, ou espumante, ou pro secco, sei lá.
Meu pensamento ia longe, quase indiferente. Mas a fartura era grande. muitas frutas mesmo,lindas.
Um menino dormia aninhado no buraco que fez para proteger-se na areia. E outro menino e um homem. Passavam fome? Não tinham casa, abrigo?
Perfumes, produtos de beleza maquiagem.
Tudo para Yemanjá. O que será que pediam aqueles que madrugaram para ofertar a Yemanjá. Alguns agradeciam. O quê?
Caminhei um bom tempo intrigada. A água salgada molhou meus pés. Parei por um instante. Olhei para o Horizonte, o vento veio, me abraçou, arrepiou a minha pele, se fez presente. Era tudo verdade, não era sonho.