quinta-feira, 14 de julho de 2011

O visitante fantasma


A pressa de sempre me fez estacionar na vaga do vizinho. Tinha que subir em casa correndo, pegar o envelope que  havia esquecido, ligar para o cliente e descer os dez andares que me separam do chão, num minuto. Sabia que não ia dar tempo de ficar manobrando caprichosamente para colocar meu carro no centro da vaga, retinho, como aprendi na auto escola.
 A vaga do vizinho do apartamento 203 não precisa de manobra e, então, oprimida pelo relógio, larguei meu carro lá e subi. Fui no quarto peguei o envelope, passei a mão no telefone, confirmei com o cliente e... quando já estava fechando a porta para descer, o interfone tocou.
- D. Márcia, seu Jorge do 203 quer falar com a senhora.
-Meu Deus! Não pode ser outra hora? Estou atrasadíssima.
-Ele está um pouco nervoso, disse que é urgente.
-Então passe logo a ligação seu Antonio.
-Pois não!  disse tentando ser educada.
-Eu queria pedir para a senhora tirar o carro da minha vaga, meu filho pode vir me visitar e eu não gostaria que ele não tivesse lugar para estacionar o carro, quando chegasse.
-Pois não, repeti, já estou indo. Não tinha tempo para brigar e de mais a mais estava errada mesmo.

Na hora confesso que fiquei com uma raiva danada do vizinho, mas que droga! será que ele não poderia esperar um minutinho?
 Hoje toda vez que vejo aquela vaga vazia me compadeço. Passados alguns anos do ocorrido, nunca vi qualquer carro estacionado na vaga do 203, nem por engano. Meu lado melodramático me sugere que seu Jorge não faz outra coisa a não ser esperar a visita do filho ingrato, que não dá atenção ao pai, coitado. Ah! mas pode ser também que o filho de seu Jorge tenha trocado o carro por uma moto, ou agora ande de táxi para não correr o risco de não ter onde estacionar o carro quando visitar o pai.

Sei lá pode ser qualquer coisa.

Bom Dia!

sábado, 11 de junho de 2011

saudades

De repente me deu uma saudade de escrever. Como eu conseguia fazer aquilo, acordar no meio da madrugada com uma ideia na cabeça e em pouco mais de quarenta minutos ter um texto para ser arrredondado ao amanhecer, depois que eu terminava de dormir.
É sempre assim: eu era feliz e não sabia. Não sei se eu era feliz, mas eu me divertia muito. Adorava o que escrevia e adorava os comentários. Sempre digo que não escrevo para receber elogios, acho que venho mentindo todo este tempo, adoro os elogios, preciso deles para continuar...
Minha vida esta cada dia mais parecida com as minhas gavetas. Uma bagunça. E tudo culpa minha vida
Um dia estava em casa esperando. Esperava o tempo todo, as meninas se aprontarem para o colégio, as meninas sairem do colégio, do inglês do Ballet, da casa da amiga, da festa... Ia dizendo... Um dia estava em casa esperando e me veio a ideia (sempre tenho estes insights) de ser corretora de imóveis, que hoje em dia tem o gaboso nome de Consultora Imobiliária. Levantei e consultei meu melhor amigo: Tio Google. Descobri que era só fazer um curso chamado TTI e pronto tirar o brevê, digo a carteira do CRECI.
E assim eu fiz. Levantei da cama e na semana seguinte a inscrição no tal curso, já estava empregada.
Não, a palavra não foi bem empregada l i t e r a l m e n t e. Ia dizendo que tinha arrumado um emprego, mas na verdade ser corretor de imóveis não é bem um emprego, é um trabalho. Hum mas deixa isso para lá. E não vai dar para continuar agora, o dever me chama. Bjs

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Porque todo passado é ficção, quer a gente queira quer não


Chego, mania antiga, quinze minutos antes do combinado. Fico imaginando a cor do boné que ele insite em usar para  esconder a calva que lhe cai muito bem. Hoje vai combinar com as calças de linho cor de creme ou com os olhos azuis.

Espero lá fora, o anil do céu de outono me chama. Gosto de vê-lo chegando, chega menino, repara em tudo com uma curiosidade de estreante. Ele atravessa a rua eu entro no café. Não gosto que saibam que sempre chego quinze minutos antes do combinado, outra mania antiga.
Escolhemos a mesa com cerimônia dispensável.
-tem salada de frutas, repara.
 Levanto para me servir da salada, ele gentil aguarda a vez na mesa guardando minha bolsa. Me sirvo, que já sabem não deveria ser proclise e sim sirvo-me da salada com capricho e termino com um morango em cima do montinho. Sou caprichosa, gosto de tudo bonito.
Reparo que ele demora muito servindo a salada de frutas. Que estranho, como demora, será que é por causa dos 81 incompletos? Será que está separando alguma fruta que não quer?
Chega orgulhoso com um prato de frutas cujo desenho formado pelas frutas forma um palhacinho com gola e tudo. Sou caprichosa ele é mais....
Colocamos, o papo em dia, ele sempre com um projeto novo, agora tem um mercado que vende coisas que ninguém quer comprar. Algumas custam até R$40 MIL.
Falamos sobre literatura. Me lembro do meu Pai.

Os dois tem em comum a sabedoria, mas o conselho é meu.Sempre peço aos dois que parem com este compromisso com a verdade dos fatos ao cotarem suas memórias. Relaxem! Encontro na crônica que estou a ler aqui neste plantão que não entra ninguém as palavras corretas do Mestre Miguel Falabella (Vivendo em voz alta - Ed. Lua de Papel)
PORQUE TODO PASSADO É FICÇÃO QUER A GENTE QUEIRA QUER NÃO.

terça-feira, 22 de março de 2011

cof cof cof

Acordo com uma tosse danada, a impressão que tenho é que vou colocar meus pulmões para fora.
Tossi o dia todo, uma tosse irritante. Fico imaginando que se a tosse não fosse minha, ia querer sufocar o tossinte (será que esta palavra existe?)

O dia não foi dos melh (cof cof cof) O dia (cof cof) não foi dos melhores, mas finalmente acaba de acabar.

Acordei mais cedo que o normal, sabendo que uma gripe estava querendo me pegar, mas fiz que não vi. Fiquei um tempão me arrumando. Cada vez demoro mais nesta tarefa, ou melhor, cada vez preciso demorar mais nesta tarefa. Com o passar dos anos várias coisas forem se incorporando a minha "toillete". Até bem pouco tempo, não precisava me maquiar, nem secar os cabelos e moldá-los com a escova, nem me besuntar com cremes. E olhe que na época eu enxergava muito bem!

Prometo não colocar mais o cof cof aqui, mas a tosse, querido e paciente leitor, é inclemente, não passa, e com certeza estará aqui até o ponto final.

Acordei cedo, ia dizendo, demorei me arrumando e quando vi, tive que sair correndo para levar miss13 e miss15 para a escola. Elas odeiam chegar atrasadas e a culpa é toda minha, eduquei-as assim.

Hum! Esqueci o celular, subi os 10 andares de volta e depois de me telefonar umas duas vezes fui encontrá-lo no décimo primeiro. Desci a escada correndo e depois no elevador fui pensando: que sorte, me lembrar que esqueci o celular!

Deixei as crianças na escola em Botafogo e fui para a Barra da Tijuca. Já no trabalho, notei que tinha esquecido a bolsa com minha agenda, o cabo do computador e tudo o que eu precisava para trabalhar.

Não ia adiantar voltar e tive que improvisar (taí uma coisa que eu faço muito bem!)

Tinha plantão às três lá na Freguesia, então fui almoçar mais cedo com um amigo, que ao entrar no carro disse: - iiiiihhhh, a lateral do seu carro está toda arranhada!

Pelo gestual achei que ele estava exagerando. E não estava. O meu carro tinha sido cruelmente rabiscado.

Vida que segue, almocei, botei as fofocas em dia, falei mal da minha vida e da dos outros é claro (ninguém é de ferro).

Fui com uma antecedência exagerada para o plantão, errei a saída da linha amarela, erro fatal que me custou dois pedágios, quase dez reais e muito stress. Sofri um bocado, mas cheguei a tempo.
 A tosse deu uma trégua, vou ver se durmo.
Saudades e um beijo para os meus fiéis leitores!
Paçoca

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Sorriso desta vez eu vou ganhar.

Tinha me esquecido deste texto que eu escrevi há muito tempo para a Oficina do Rogério Menezes.


Tardinha de sábado. Dia tranquilo, sol de outono, temperatura agradável.
Eu vinha com minha filha da praia, tínhamos tomado um suco, e minha filha ainda carregava o saquinho com pães de queijo.
Logo ao entrar, notei que ela não era lá muito simpática.
Sorri como de costume.
Tinha um ar blasé. Perguntou-me se eram duas passagens. Respondi que sim, ainda com um sorriso. Ela apertou automaticamente o botão e a maquininha escreveu: passe... Deu o troco, e eu e minha filha nos sentamos.
Desta vez não fui olhando o mar.
Reparei na trocadora, uma senhora.
A conversa chamou-me a atenção.
Falava bem alto, como se não houvesse mais ninguém no ônibus.
- Ôoo Reinaldo, você sabia que na casa do Guilerme eles gastam um butijão de gás por mês? Não consigo entender como eles conseguem. Deve ter alguma coisa errada. Na casa do Guilerme é só ele mais a Soraya e a Tininha. Ele e a Soraya trabalham o dia todo e a Tininha quando chega da escola...
Um senhor, bem apessoado, interrompe para dar um “boa tarde de sábado de outono”; ela pega o cartão, de gratuidade da terceira idade, passa na maquininha e diz:
 - Pode passa. 
Passam mais três passageiros.
Uma mãe, com um recém-nascido no colo, vem pagar a passagem pela contramão. Ela olha para o bebê sem expressão, inclina-se de lado e roda a roleta.
Continua a conversa ainda intrigada com o botijão de gás do Guilerme:
- Lá em casa volta e meia eu faço bolo, até pudim e o meu botijão dura quase três meses.
Reinaldo, o motorista, sugere que talvez eles aqueçam a água do banho no fogão.
Os dois riem divertidos.
Reinaldo grita:- Entra por trás, por trás.
O rapaz entra e senta naquele banquinho onde se pode ler: “Fale ao motorista somente o indispensável”. E o “indispensável” como se ouve a seguir, é um falatório sem fim.
Ela se vê sozinha, não tem mais com quem jogar conversa fora.
O ônibus para no ponto onde está o fiscal e ela grita animada.
- Ôooo Sorriso, desta vez eu vou ganhar!
Grita abanando o papelzinho da loteria acumulada.
O rosto de Sorriso se ilumina.
A viagem recomeça.
Ela pega o telefone celular e tenta ligar. Entra um passageiro, ela desliga o celular e o põe no bolso, como se colocasse o maço de cigarros.
O passageiro passa.
O celular toca, ela combina e diz até lá.
Incomodada com o banco desconfortável, se ajeita.
Começa a contar...
Entra outro passageiro.
Sorriso automático ao “boa tarde de outono”.
O passageiro passa.
Recomeça a contar o dinheiro.
Abre a gaveta, guarda o dinheiro contado, tira uma bandejinha de isopor com uns pãezinhos, morde um...
Passageiro entra...
Guarda a bandejinha de isopor e...
Lambe escandalosamente os dedos, um a um. Lambe com prazer. Pai de todos, fura bolo, mata piolho...
Passageiro passa, sem resposta ao cumprimento.
Recomeça a comilança.
-Reinaldo, o pãozinho é ótimo!
Entre passageiros e lambidas, lá se vai o resto do sábado de outono.
Seu mundo é Reinaldo, e claro, o lanchinho também.
Os passageiros passam.
Eu salto.
No dia seguinte confiro no jornal: Nenhum apostador acertou as seis dezenas.
Sábado que vem ela provavelmente vai gritar com fé:
- Sorriso, desta vez eu vou ganhar!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

triste assim


Meu amigo Luigi tem 80 anos, mora em Friburgo e já morou em São Paulo, Pernambuco, Santiago do Chile e Rio de Janeiro. Já presenciou muita tragédia. Escreveu-me mandando notícias e não autorizou a publicação desta carta. Espero que ele me perdoe! Acho que um relato assim é importante e  nos faz refletir.
Querida Marcia
Só hoje recuperei a conexão com a internet. Ficamos sem luz, sem telefone
e sem poder sair de casa pois as ruas estão bloqueadas. Os telefones ainda
não funcionam, inclusive o celular. Percorri a cidade inteira a pé, por
onde era possivel passar, enterrado na lama. O quadro é aterrador. O
centro da cidade inteiro foi inundado. A única atividade que se vê é a
retirada de lama, moveis e utensílios inutilizados de dentro das lojas e
restaurantes. Os ônibus não circulam. Saí, na quarta feira, às nove da
manhã e cheguei em casa às quatro da tarde sem parar de caminhar. Hoje
pretendia voltar para reavaliar a situaçaõ mas desistí pois voltou a
chover. Agora são 9:12. A luz foi retabelecida mas agora fecharam a agua.
Estou recolhendo agua da chuva com os poucos recipientes de que disponho.
A visão dos desabrigados nas ruas é dolorosa. Uma coisa é vê-los na
televisão. Outra é encontrá-los face a face, chorando e gritando em busca
do pai ou do filho que desapareceram. E não poder fazer nada.
Nossa casa nada sofreu, milagrosamente, mas certamente ajudada pelas valas
que preparei na encosta para escoamento das aguas e que, em Outubro,
quando iniciavam as chuvas, tive o cuidado de limpar e aprofundar.
Não sei quando vou poder me deslocar ou mesmo falar ao telefone. O meu
computador está em pane. Estou usando o notebook da Dorotea e, com isso
nem posso trabalhar na revisão dos meus textos. O backup que fiz não
entrou no notebook. De qualquer modo o ânimo, diante do quadro desolador
da cidade, embota o raciocínio. A única coisa que poderia fazer seria
anestesiar-me com uisque, coisa que não faço em respeito aos desabrigados.
Que Deus os ajude.
Um beijo, Luigi

Mea Culpa

Escrevi este texto ano passado logo depois do terremoto que devastou o Haiti. Não gosto de culpar o governo por tudo. o que importa é que o tempo passou e eu não fiz nada para ajudar. 


Cantiga para o Haiti

Acordo cedo. Os passarinhos fazem uma festa lá fora, indiferentes ao queacontece. Abro a porta da varanda. Respiro fundo. O verde entra pelas minhas narinas, me convida. As azáleas em diferentes tons de rosa combinam com as hortênsias e emolduram o caminho que vem até minha casa. As borboletas ainda não apareceram. Talvez um pouco mais tarde. As helicônias estão tão lindas, em laranja néon que, se, bem descritas vão romper a tênue linha que separa a verdade do exagero..
Respiro fundo. Alguém me chama para o café. Mesa farta. Escolho um suco e corto em rodelas uma banana que vou comer com algum cereal. Olho através do vidro, uma felicidade imensa me invade. Desde muito pequena a sensação de felicidade vem acompanhada de uma melancolia profunda.
Aluna de colégio de freiras tinha missa obrigatória às quartas-feiras. Sempre gostei de ir a missa. Gostava de tudo: Da pequena capela do Colégio, toda iluminada por enormes janelas de vidro, verdadeiras vitrinas para a mata-atlântica que cercava o pequeno prédio. Gostava da singela decoração com flores naturais que ladeavam imensos castiçais. Gostava da roupa do padre, do sermão, gostava sobretudo das cantigas. E a melancolia?
“Para mim a chuva no telhado é cantiga de ninar, mas o pobre meu irmão para ele a chuva fina vai correndo em seu barraco e se esparrama pelo chão”.
Não era raro cantarmos esta canção na missa. Com doze anos eu não sabia o que era melancolia. Mas sempre que ouvia esta cantiga duas lágrimas me escorriam pelo rosto. Um aperto no coração.
Olho a natureza, generosa, com seus verdes o colorido das flores o canto dos passarinhos e lá vem a melancolia cantada. E o pobre meu irmão?
O Haiti foi destruído. Obra da mesma natureza que me presenteia a cada manhã com pássaros, flores s e borboletas e que me faz suspirar.
Nestas horas é fácil encontrar culpados. A Natureza, o Sistema, os Países Ricos etc e tal, infinito e além. A tragédia não tem cara. É descarada. Por um instante penso em parar de escrever este texto. Assunto veiculado à exaustão pelamedia. Que também não tem cara.
Mas o pobre meu irmão? O que fazer?
Os brasileiros se ofendem quando os americanos não sabem nem localizar o Brasil no mapa. Acham até infame quando um americano pergunta se tem jacaré atravessando as ruas. Mas a verdade é que não sabemos nada nem de nós mesmos.
Eu não sabia que o Haiti era o país mais pobre das Américas, nem que lá poderia ter terremoto e que este poderia ter esta proporção. Infinitamente triste. Eu sou ignorante. A verdade é esta. Ignoro tanta coisa que me pergunto se estou viva.
Não sei o que fazer para ajudar o pobre meu irmão e isso me angustia muito. Penso em largar tudo e ir para o Haiti e dar carinho e conforto. Penso também que não preciso ir tão longe, que o pobre meu irmão está bem aqui ao meu lado. Que me faz uma média pela manhã e me entrega com um sorriso no rosto. Que enquanto lixa minhas unhas me conta como sua casa ficou alagada e da sorte que teve considerando que nada aconteceu aos seus filhos.
Não consigo concluir, porque não consigo entender. O que fazer? Rápido. Antes que outra tragédia aconteça.


domingo, 9 de janeiro de 2011

Domingo é dia de missa


Acordo cedo todos os dias da semana. Inclusive domingo. Acordo sempre um pouco antes do sol nascer, nunca por obrigação. Eu vim assim, com um relógio biológico que me desperta para o dia.

A casa ainda está em silêncio e a cidade também. Subo até o terraço e vejo o sol nascer bem quentinho atrás do Pão de Açúcar. Saúdo o astro rei. Gosto de reis: rei pelé, rei roberto carlos, rei charles (ooops Ray Charles, rei das selvas, rei momo. Aproveito o silêncio da manhã e a força do sol para organizar meu domingo.

Vou a missa. Pronto! Está decidido!
Tomo café da manhã e faço o da Miss 15, que viaja para a Disney na terça-feira e vai nos deixar com saudades.
No caminho para a Igreja de Santa Cecília e São Pio N (nunca me lembro o número do Pio se é X, XI ou XII  - com todo o respeito- é claro!)
Eu ia dizendo... no caminho vou pisando em algumas folhas secas, o barulhinho me agrada. O vento vai levantando as folhas e o cheiro daquela arvore das folhas e do fruto ( uma manguinha mínima) me levam correndo para a casa da minha avó.
Respiro fundo, o vento me abraça e eu ouço a vovó
 - Venha até aqui minha russinha?
Uma lágrima escorre e o vento leva minha avó de volta como trouxe.
Subo a escadaria da igreja, a missa ainda não começou, mas a tripulação já está a postos:
2 coroinhas gordinhos com camisolão bege e gola de cetim vermelho, três cantoras uma branca, uma russa, uma preta, 2 ajudantes com camisolão branco bem fininho. E o sacerdote com camisolão branco de cambraia de algodão com uma encharpe (provavelmente bordada por alguma beata) linda toda colorida em tons pastéis.
Sento-me no primeiro banco que não tem ninguém ainda. De repente uma senhora gordota de conjunto de malha salmão vem andando na minha direção e pede que eu leia.
Nem deixei a senhora terminar o pedido, não fiquei sabendo o que era para ler. Interrompi logo:
- Não, é melhor não ler. Desculpa. Sou muito tímida e vou gaguejar.
 Ela então pede a agora minha vizinha no banco, que aceita e que na hora h lê muito bem.
Reparo a missa toda nos coroinhas, em especial no gordinho mais alto.
Garoto esperto está ligado em tudo. Se cai um papel aponta. Sussurra algumas vezes para alguém avisando de alguma coisa. Eu sismo que o coroa gordinho, digo o coroinha gordo está tomando conta de mim e dos outros fiéis também.
Me ajeito no banco, o menino olhando. Erro a resposta do corações ao alto, o guri olhando. E quando estou cantando então: o menino não tira os olhos de mim. A cada nota desafinada eu olho e lá está ele: olho no olho. Ou será a cada nota que eu acerto e não desafino?!

BOM DOMINGO!!!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Um flamboyant





Manhã de sol lindo no Rio de Janeiro.
Saio de casa, viro a esquerda, no alto do morrinho um flamboyant . Desço a ladeira, viro a esquerda de novo e sigo para vida que me espera. ? . Não, não me espera o dia vai passar sem me esperar mesmo. Ligo o rádio e alguém de um helicóptero fala do trânsito. Mudo a estação, não quero saber, moro no Rio,  o dia está lindo e a paisagem pode ser melhor apreciada com o trânsito lento mesmo. Na rádio Rod Stewart encanta: Through the top line cross the sea. Seguimos felizes num dueto. No caminho organizo minha agenda. Primeiro o stand da Abelardo Bueno (Dimension Office Park Salas comerciais e Corporativos), depois a sede (Patrimóvel), alguns contatos com clientes por telefone e por email, almoço depois do plantão lá pelas três.
Me cobro (a desgraçada da próclise sempre a me perseguir):
Não liguei para a minha mãe, esqueci de novo de agradecer o presente de natal que o meu irmão e minha cunhada me deram, não arrumei a minha gaveta e ainda não fiz as minhas New Year's resolutions. Não liguei para minha amiga que diz que eu nunca ligo para ela, não fiz compras de mercado esqueci de deixar o dinheiro para a empregada, não disse o que ia ter para o almoço!
Paro no posto. - R$ 50 reais de gasolina comum por favor?
-comum.
- Obrigada.
Já no stand confiro meus emails. Ninguém respondeu,ninguém perguntou, nem você. Ah sim na outra caixa postal meu amigo convida para a reunião no Cosme Velho. Confirmo a presença.
 Venho até aqui e Ricardo deixou um carinho para mim na postagem anterior.
Sinto dor de cabeça (horrível) dor nas costas e medo.
Respiro fundo, suspiro e sigo em frente.
Bom Dia!!!!