Ontem fui ao cinema. Meu programa de tardezinha de sábado predileto. Me sinto a pessoa mais feliz do mundo, quando consigo arranjar um tempinho para ir ao cinema. Gosto de ir sozinha. Sou uma pessoa neurótica. Se tem alguém comendo pipoca do meu lado, não consigo curtir o filme e fico olhando para a pessoa como se ela estivesse praticando um crime hediondo.
Atualmente os saquinhos (modo de falar) de pipoca são mais compridos que o filme. Tem até tamanho "E o vento levou". Conclusão: passo o filme todo incomodada com aquele gesto banal de polegar e indicador no saquinho de pipoca e depois na boca, centenas, milhares de vezes. Minha atenção se dispersa a cada movimento.
Alguém me diagnosticou com dda que é um transtorno da moda. Já tomei até remédio, mas desisti de tentar ser normal. Agora além de neurótica, sou portadora de
transtorno de déficit de atenção/sem hiperatividade. O que significa que eu não consigo prestar atenção a nada, mas fico sentadinha na cadeira.
Ontem sentei do lado de uma velhinha que comia pipocas. O saquinho tinha o tamanho normal. Provavelmente, ela, saudosista comprou o saquinho no pipoqueiro que fica do lado de fora do cinema. O saquinho era de papel manteiga e fazia um barulhinho...
Ela comia com educação, uma pipoquinha de cada vez, o que para meu cérebro era como se fosse uma sessão de tortura.
Todo neurótico acha que o que o incomoda, incomoda aos outros também. Há muito pouco tempo, descobri que não, que nem todos se incomodam com saquinho de pipoca, ou com aquele chutinho inocente vindo da poltrona detrás ou com alguém que funga no cinema. Se você funga, não vá ao cinema vá se tratar.
Continuo querendo falar do filme, mas os gulosos me distraem. A pipoquinha dos anos 30 terminou. Mas, atrás da minha poltrona tinha alguém que comprou um saquinho de sei lá o que. Só sei que o saquinho tinha um tamanho hediondo e que era moderno (barulho de papel celofane). A gorducha ( que não comia com educação), passou três quartos do filme, como se estivesse na sala de jantar de sua própria casa. Comeu o filme todo. E eu, bebendo aquele filme lindo, vez por outra, olhava para trás para mostrar que aquilo estava me incomodando muito. Ela, a gorducha só tinha olhos (bocas) para o "sei lá o quê", no saquinho de papel celofone e nem se abalou.
O filme foi ficando tenso e de repente, não se ouvia mais uma mosca, um estalar de saquinhos sequer. Todos conseguiram entrar no clima e agora parecia que só havia um espectador, a platéia silenciosa, atenta, maravilhada, comandada como num coro pelo maestro.
Confesso que pequei. Chorei um bocado e até funguei.
Não reli, não consertei os erros, porque não saberia, mas vou estudar e me dedicar para melhorar meu texto.