terça-feira, 25 de agosto de 2009

Solidão


50 mulheres denunciaram um médico de estrelas (se é que isto existe) por estupro.
Muitas alegaram que na época do ocorrido não contaram nada a seus maridos por medo.
Medo de que? do marido, de não poderem mais ter o nenê, não poderem mais ter o nene com o médico das estrelas?
Enquanto tentava entender me lembrei que o brasileiro é muito solidário.

Quem viaja pelas estradas brasileiras sabe do que estou falando. Não é raro passar por alguma estrada de mão dupla e ver alguém na contramão piscando desesperadamente o farol para avisar que tem algum perigo pela frente. As vezes é um acidente, outras animais na pista e tem gente que avisa também quando tem alguma polícia na frente, para que o infrator possa ter tempo de corrigir o erro, por um instante que seja.
50 mulheres não piscaram o farol para avisar que havia algum perígo pela frente. Não comentaram nem com seus maridos, que pagavam o que podiam e o que não podiam em busca da felicidade de ter um filho.
Mulheres que não pensaram em denunciar um ato ilícito. E porque não pensaram?
Coloco-me no lugar destas mulheres (se é que isto é possível, é fácil falar, todos sabemos).
A primeira vista vejo um problema mais antigo:
Não falaram, porque sempre que existe uma denúncia de abuso sexual existe o medo de dizerem que foi a mulher quem seduziu!
Não falaram para pouparem os maridos. Pouparem os maridos do que? Porque não se poupam?
Não falaram por medo de não poder realizar o sonho de ter um filho.
Não falaram por que por muitos motivos talvez não tivessem autoestima.
Autoestima palavrinha um tanto vulgarizada. A publicidade nos promete o tempo todo melhorar a nossa autoestima.
Vale de tudo:
Emagrecer, pintar os cabelos, alisar os cabelos, acabar com a celulite, rejuvenescer, melhorar o desempenho sexual, comprar um brinco novo, ter um aparelho de celular de último tipo, branquear os dentes etcetera e etcetera.
Voltando ao fato do brasileiro ser muito solidário:
Essas mulheres não imaginaram que poderiam estar evitando que o fulano (não consigo arranjar um adjetivo para este ser) fizesse com outras mulheres o que fez com elas?
Comecei dizendo que o problema do brasileiro é falta de ética, mas agora vejo que primeiro precisamos resolver o problema de autoestima do brasileiro.
Sei que esta um pouco confuso meu texto, mas é que reflito enquanto escrevo e procuro ser justa e mais do que isso procuro entender o que aconteceu, sem julgamentos, tentando entender a dor e os impedimentos de mulheres fragilizadas, que o tempo todo tem que ser fortes. Mulheres de uma solidão absoluta, que não tem em seus companheiros alguém com quem contar, que se entregam a médicos que são monstros.
Que são induzidas a achar que existe médico de estrelas, que se não for aquele não pode ser mais ninguém (isto ó já é um tanto violento e ultajante- acreditar que só um determinado médico ou produto, poderá nos salvar a vida).
O grande problema da brasileira é a solidão. É não poder ser frágil nem sob efeito de anestesia. É estar atenta o tempo todo. Atenta e só.
Márcia Lopes

3 comentários:

As Tertulías disse...

Será porque debaixo desta forma exuberante, falante, conquistante de ser dos brasileiros/brasileiras se escondem realmente pessoas fechadas que só sao consideradas "abertas" porque demontram que sao (nao estou falando de "sentir") "cheias de emocao"? Todo mundo sente o mesmo, em qualquer parte do mundo. Eu, as vezes acho, que meus conterraneos abusam do direito de quererem ser interpretados como pessoas que tem "sentimentos"... demonstram demais. Quem demonstra demais quer provar alguma coisa... talvez nestas horas, como com as 50 mulheres, venha à tona o verdadeiro "eu" do brasileiro/brasileira. Infelizmente sem muita consideracao ao próximo... nada solidário. fico triste de ter que falar isto, colocar estes sentimentos em palavras... mas nao deu para freiar agora... beijo, querida, Ricardo

Paçoca disse...

Querido Ricardo, comecei querendo falar de solidariedade, mas enquanto escrevia raciocinava e não sei se fui clara, meu texto é um tanto confuso, entendi que o problema não era falta de solidariedade e sim de solidão! Não ter a quem recorrer e ter que ser bonita, fértil, inteligente, boa filha, boa sogra etc e tudo o mais. Beijo da Paçoca

Jôka P. disse...

A maioria dessas senhorinhas admitiu que depois de terem sido molestadas pelo doutor taradão não só ficaram caladas como também voltaram várias vezes novamente ao consultório dele. Duas hipóteses: ou gostaram ou não têm mesmo um pingo de vergonha na cara. Ou ambas as respostas. Um tatú cheira o outro.