Publico aqui a última crônica que escrevi para a Oficina da Crônica que estou fazendo às quintas-feiras. O mestre Felipe Pena nos pediu que escolhêssemos um fato qualquer que tivesse saido no jornal na semana.
“Terção Brasileira”
OBITUÁRIO
Herbert Richers, 86, sinônimo de dublagem
A frase “versão brasileira Herbert Richers”
está no inconsciente coletivo desde
os anos 50, quando Richers criou
sua companhia de dublagem...
(o globo 21 de novembro de 2009)
Quando eu nasci, já na segunda metade do século 20, a televisão ainda não era um fenômeno de massa. O aparelho incomodava, e muito, à estética das casas de classe média. Na casa dos meus avós e em tantas outras a TV ficava na sala, dentro de um armário, que só era aberto em determinadas horas do dia.
Do mesmo modo que a família se reunia a volta de uma mesa, para fazer as refeições, também se reunia no sofá, para assistir aos telejornais, novelas, desenhos animados e seriados oferecidos por não mais que três canais.
Naquele tempo as mulheres alisavam os cabelos com o ferro de passar roupa. Já havia a minissaia, mas esta não ia para a universidade e como assunto, estava restrito as colunas especializadas em moda. Nunca ao noticiário policial. O assunto mais comentado era o “escrete” para a copa de 70. Os noventa milhões de técnicos tupiniquins eram felizes e não sabiam. Podiam escalar uns três times de craques, pelo menos.
O governo nos desafiava a amar o Brasil ou então deixá-lo. Mas quem amava, muito e profundamente nossa nação de chuteiras, era muitas vezes obrigado a deixá-la.
Nesta época a censura era declarada. Antes de qualquer programa, a tv exibia um papel cheio de carimbos e assinaturas, com o brasão da república, que determinava, quem podia assistir àquele programa. Os pais seguiam, a risca, a indicação de idade “sugerida” pelo censor. Se o filme era dublado, depois daquele papelzinho da censura, ouvia-se uma voz grave: Versão Brasileira: Herbert Richers.
Na verdade todos ouviam versão. Eu ouvia terção. Durante muito tempo, fui motivo de chacota, por causa deste erro bobo. – Como é mesmo Mirandinha? Terção brasileira? E... quaquaquaqua quá!
Passadas quatro décadas, o aparelho de televisão não incomoda mais. Pelo contrário nos dias de hoje, símbolo de status, a têvê faz parte da decoração da sala. É pendurada na parede, pelos mais festejados decoradores. Onde antes ficava uma obra de arte atualmente fica uma tv de plasma. Agora, há também quem leve a tv no bolso da mesma maneira que antes, carregava o maço de cigarros. A censura, não é mais declarada é discutida, e como! Surgiu o videoteipe, a tv digital. Mas ainda ouço a mesma frase, falada com a mesma voz, no início de muitos filmes e desenhos animados.
A empresa, criada pelo brasileiro de nome estrangeiro nascido em Araraquara,São Paulo, possui um dos maiores estúdios de dublagem da América Latina e é responsável por grande parte da dublagem dos filmes exibidos ainda hoje na televisão brasileira.
Herbert Richers morreu no último dia 21, no Rio de Janeiro, mas o show tem que continuar e toda vez que eu ouvir a frase patriótica vou me lembrar dele e da minha infância também.
Miranda
Na oficina da crônica ninguém sabem quem é quem e isso torna esta oficina muito divertida,. Eu uso o apelido de Miranda e as vezes finjo que sou homem, para disfarçar bem.
2 comentários:
Menina, eu sou bem mais velho e na minha época já haviam mais canais: 2 (excelsior); 4 (grobis), 6 (Tupi), 9 (Continental) e 13 (TV Rio). Lembra? E a melhor dubladora de todos os tempos? Ida Gomes fazendo Bette Davis (!) (Versao Brasileira AIC Sao Paulo... esta era a "concorrente" do Richers, nao é?) memories... light the corners of my mind...
Pois é, Paçoca, também me lembro desta frase falando da versão brasileira. A televisão sofreu muitas mudanças e estas se aceleram cada vez mais, nem dá para imaginar para onde elas vão nos levar...pena que o conteudo não progrediu, estes "reality shows" acho de uma decadência total. Enfim, c'est la vie!
Muito legal tua crônica.
Beijos.
Postar um comentário