sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

triste assim


Meu amigo Luigi tem 80 anos, mora em Friburgo e já morou em São Paulo, Pernambuco, Santiago do Chile e Rio de Janeiro. Já presenciou muita tragédia. Escreveu-me mandando notícias e não autorizou a publicação desta carta. Espero que ele me perdoe! Acho que um relato assim é importante e  nos faz refletir.
Querida Marcia
Só hoje recuperei a conexão com a internet. Ficamos sem luz, sem telefone
e sem poder sair de casa pois as ruas estão bloqueadas. Os telefones ainda
não funcionam, inclusive o celular. Percorri a cidade inteira a pé, por
onde era possivel passar, enterrado na lama. O quadro é aterrador. O
centro da cidade inteiro foi inundado. A única atividade que se vê é a
retirada de lama, moveis e utensílios inutilizados de dentro das lojas e
restaurantes. Os ônibus não circulam. Saí, na quarta feira, às nove da
manhã e cheguei em casa às quatro da tarde sem parar de caminhar. Hoje
pretendia voltar para reavaliar a situaçaõ mas desistí pois voltou a
chover. Agora são 9:12. A luz foi retabelecida mas agora fecharam a agua.
Estou recolhendo agua da chuva com os poucos recipientes de que disponho.
A visão dos desabrigados nas ruas é dolorosa. Uma coisa é vê-los na
televisão. Outra é encontrá-los face a face, chorando e gritando em busca
do pai ou do filho que desapareceram. E não poder fazer nada.
Nossa casa nada sofreu, milagrosamente, mas certamente ajudada pelas valas
que preparei na encosta para escoamento das aguas e que, em Outubro,
quando iniciavam as chuvas, tive o cuidado de limpar e aprofundar.
Não sei quando vou poder me deslocar ou mesmo falar ao telefone. O meu
computador está em pane. Estou usando o notebook da Dorotea e, com isso
nem posso trabalhar na revisão dos meus textos. O backup que fiz não
entrou no notebook. De qualquer modo o ânimo, diante do quadro desolador
da cidade, embota o raciocínio. A única coisa que poderia fazer seria
anestesiar-me com uisque, coisa que não faço em respeito aos desabrigados.
Que Deus os ajude.
Um beijo, Luigi

Mea Culpa

Escrevi este texto ano passado logo depois do terremoto que devastou o Haiti. Não gosto de culpar o governo por tudo. o que importa é que o tempo passou e eu não fiz nada para ajudar. 


Cantiga para o Haiti

Acordo cedo. Os passarinhos fazem uma festa lá fora, indiferentes ao queacontece. Abro a porta da varanda. Respiro fundo. O verde entra pelas minhas narinas, me convida. As azáleas em diferentes tons de rosa combinam com as hortênsias e emolduram o caminho que vem até minha casa. As borboletas ainda não apareceram. Talvez um pouco mais tarde. As helicônias estão tão lindas, em laranja néon que, se, bem descritas vão romper a tênue linha que separa a verdade do exagero..
Respiro fundo. Alguém me chama para o café. Mesa farta. Escolho um suco e corto em rodelas uma banana que vou comer com algum cereal. Olho através do vidro, uma felicidade imensa me invade. Desde muito pequena a sensação de felicidade vem acompanhada de uma melancolia profunda.
Aluna de colégio de freiras tinha missa obrigatória às quartas-feiras. Sempre gostei de ir a missa. Gostava de tudo: Da pequena capela do Colégio, toda iluminada por enormes janelas de vidro, verdadeiras vitrinas para a mata-atlântica que cercava o pequeno prédio. Gostava da singela decoração com flores naturais que ladeavam imensos castiçais. Gostava da roupa do padre, do sermão, gostava sobretudo das cantigas. E a melancolia?
“Para mim a chuva no telhado é cantiga de ninar, mas o pobre meu irmão para ele a chuva fina vai correndo em seu barraco e se esparrama pelo chão”.
Não era raro cantarmos esta canção na missa. Com doze anos eu não sabia o que era melancolia. Mas sempre que ouvia esta cantiga duas lágrimas me escorriam pelo rosto. Um aperto no coração.
Olho a natureza, generosa, com seus verdes o colorido das flores o canto dos passarinhos e lá vem a melancolia cantada. E o pobre meu irmão?
O Haiti foi destruído. Obra da mesma natureza que me presenteia a cada manhã com pássaros, flores s e borboletas e que me faz suspirar.
Nestas horas é fácil encontrar culpados. A Natureza, o Sistema, os Países Ricos etc e tal, infinito e além. A tragédia não tem cara. É descarada. Por um instante penso em parar de escrever este texto. Assunto veiculado à exaustão pelamedia. Que também não tem cara.
Mas o pobre meu irmão? O que fazer?
Os brasileiros se ofendem quando os americanos não sabem nem localizar o Brasil no mapa. Acham até infame quando um americano pergunta se tem jacaré atravessando as ruas. Mas a verdade é que não sabemos nada nem de nós mesmos.
Eu não sabia que o Haiti era o país mais pobre das Américas, nem que lá poderia ter terremoto e que este poderia ter esta proporção. Infinitamente triste. Eu sou ignorante. A verdade é esta. Ignoro tanta coisa que me pergunto se estou viva.
Não sei o que fazer para ajudar o pobre meu irmão e isso me angustia muito. Penso em largar tudo e ir para o Haiti e dar carinho e conforto. Penso também que não preciso ir tão longe, que o pobre meu irmão está bem aqui ao meu lado. Que me faz uma média pela manhã e me entrega com um sorriso no rosto. Que enquanto lixa minhas unhas me conta como sua casa ficou alagada e da sorte que teve considerando que nada aconteceu aos seus filhos.
Não consigo concluir, porque não consigo entender. O que fazer? Rápido. Antes que outra tragédia aconteça.


domingo, 9 de janeiro de 2011

Domingo é dia de missa


Acordo cedo todos os dias da semana. Inclusive domingo. Acordo sempre um pouco antes do sol nascer, nunca por obrigação. Eu vim assim, com um relógio biológico que me desperta para o dia.

A casa ainda está em silêncio e a cidade também. Subo até o terraço e vejo o sol nascer bem quentinho atrás do Pão de Açúcar. Saúdo o astro rei. Gosto de reis: rei pelé, rei roberto carlos, rei charles (ooops Ray Charles, rei das selvas, rei momo. Aproveito o silêncio da manhã e a força do sol para organizar meu domingo.

Vou a missa. Pronto! Está decidido!
Tomo café da manhã e faço o da Miss 15, que viaja para a Disney na terça-feira e vai nos deixar com saudades.
No caminho para a Igreja de Santa Cecília e São Pio N (nunca me lembro o número do Pio se é X, XI ou XII  - com todo o respeito- é claro!)
Eu ia dizendo... no caminho vou pisando em algumas folhas secas, o barulhinho me agrada. O vento vai levantando as folhas e o cheiro daquela arvore das folhas e do fruto ( uma manguinha mínima) me levam correndo para a casa da minha avó.
Respiro fundo, o vento me abraça e eu ouço a vovó
 - Venha até aqui minha russinha?
Uma lágrima escorre e o vento leva minha avó de volta como trouxe.
Subo a escadaria da igreja, a missa ainda não começou, mas a tripulação já está a postos:
2 coroinhas gordinhos com camisolão bege e gola de cetim vermelho, três cantoras uma branca, uma russa, uma preta, 2 ajudantes com camisolão branco bem fininho. E o sacerdote com camisolão branco de cambraia de algodão com uma encharpe (provavelmente bordada por alguma beata) linda toda colorida em tons pastéis.
Sento-me no primeiro banco que não tem ninguém ainda. De repente uma senhora gordota de conjunto de malha salmão vem andando na minha direção e pede que eu leia.
Nem deixei a senhora terminar o pedido, não fiquei sabendo o que era para ler. Interrompi logo:
- Não, é melhor não ler. Desculpa. Sou muito tímida e vou gaguejar.
 Ela então pede a agora minha vizinha no banco, que aceita e que na hora h lê muito bem.
Reparo a missa toda nos coroinhas, em especial no gordinho mais alto.
Garoto esperto está ligado em tudo. Se cai um papel aponta. Sussurra algumas vezes para alguém avisando de alguma coisa. Eu sismo que o coroa gordinho, digo o coroinha gordo está tomando conta de mim e dos outros fiéis também.
Me ajeito no banco, o menino olhando. Erro a resposta do corações ao alto, o guri olhando. E quando estou cantando então: o menino não tira os olhos de mim. A cada nota desafinada eu olho e lá está ele: olho no olho. Ou será a cada nota que eu acerto e não desafino?!

BOM DOMINGO!!!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Um flamboyant





Manhã de sol lindo no Rio de Janeiro.
Saio de casa, viro a esquerda, no alto do morrinho um flamboyant . Desço a ladeira, viro a esquerda de novo e sigo para vida que me espera. ? . Não, não me espera o dia vai passar sem me esperar mesmo. Ligo o rádio e alguém de um helicóptero fala do trânsito. Mudo a estação, não quero saber, moro no Rio,  o dia está lindo e a paisagem pode ser melhor apreciada com o trânsito lento mesmo. Na rádio Rod Stewart encanta: Through the top line cross the sea. Seguimos felizes num dueto. No caminho organizo minha agenda. Primeiro o stand da Abelardo Bueno (Dimension Office Park Salas comerciais e Corporativos), depois a sede (Patrimóvel), alguns contatos com clientes por telefone e por email, almoço depois do plantão lá pelas três.
Me cobro (a desgraçada da próclise sempre a me perseguir):
Não liguei para a minha mãe, esqueci de novo de agradecer o presente de natal que o meu irmão e minha cunhada me deram, não arrumei a minha gaveta e ainda não fiz as minhas New Year's resolutions. Não liguei para minha amiga que diz que eu nunca ligo para ela, não fiz compras de mercado esqueci de deixar o dinheiro para a empregada, não disse o que ia ter para o almoço!
Paro no posto. - R$ 50 reais de gasolina comum por favor?
-comum.
- Obrigada.
Já no stand confiro meus emails. Ninguém respondeu,ninguém perguntou, nem você. Ah sim na outra caixa postal meu amigo convida para a reunião no Cosme Velho. Confirmo a presença.
 Venho até aqui e Ricardo deixou um carinho para mim na postagem anterior.
Sinto dor de cabeça (horrível) dor nas costas e medo.
Respiro fundo, suspiro e sigo em frente.
Bom Dia!!!!