De repente a gente se torna íntimo de umas coisas. Agora estou íntima do Rio Negro e do Solimões. Não, da dupla sertaneja não, dos rios mesmo, que dividem a cidade de Manaus. Dividem a cidade de Manaus? Será? A verdade: não sei se fico tão íntima assim. Talvez eu fique sufocada com tanta notícia. Não, com tanta notícia não. Com a mesma notícia, repetida mil vezes.
Ultimamente, as notícias sobre o nível das águas do Rio Negro e do Rio Solimões, parecem até a cotação da bolsa de Nova Iorque: tem previsão e tudo. Hoje vai subir tanto, amanhã vai continuar subindo; tendência de queda a partir da próxima quarta-feira.
Na verdade, já tinha tido uma certa intimidade com a dupla: Rio Negro e Solimões, meu pai, homem culto e íntimo de muitas coisas nos contou ao jantar sobre o encontro das águas dos rios.
Naquele tempo, as famílias se sentavam à mesa para fazer as refeições. Todos os membros deveriam estar presentes. Não importava se estivessem indispostos ou sem fome ou se tivessem brigado uns com os outros. Alguém chamava: O jantar está na mesa! E, em pouco tempo, a família se reunia em torno da távola que podia ser redonda ou não
.
Lá em casa meu pai era o chefe da família. Isto queria dizer que ele se sentava à cabeceira, que o jantar só era servido quando ele chegava do trabalho e que o cardápio era composto de acordo com seus gostos e seu apetite. Ninguém questionava e todos respeitavam.
Meu pai falava o jantar inteirinho. Foi jantando que aprendi que branco é a soma de todas as cores, que preto é ausência de luz. Ouvia falar das aventuras do Saint Exupéry, do Fernão Dias Paes Leme, dos canibais do livro do Jean de Lery, ouvia-o declamar com paixão: Castro Alves. “Levantai-vos heróis do Novo Mundo! Andrada! Arranca esse pendão dos ares! Colombo fecha a porta dos teus mares!”.
Nunca fui uma boa aluna, melhor, sempre fui péssima aluna. Era considerada a burrinha da casa e por isso mesmo, ficava o jantar todo calada. Abria a boca para pedir que me passassem o pão, a água, ou qualquer outra coisa. Meus irmãos (os meninos) brincavam ou brigavam. Minha mãe dava ordens: -Pode tirar! -Traga o sal! -Senta direito menino. E minha irmã mais velha, na cabeceira oposta a de meu pai ouvia. Sempre me pareceu que meu pai falava só para ela.
Naquela época, não faltava assunto. Não falávamos de crimes, roubos, escândalos, novelas, programas de show da realidade. Não sei se era porque a imprensa tinha menos meios ou se porque a censura era implacável e não deixava passar nada, fazendo com que os editores e redatores se dedicassem mais ao texto e tivessem mais critério quanto a escolha do assunto.
Evito a censura. Sou contra alguém me dizer o que posso ou não saber, falar, imaginar, aprender. Sou a favor da autocensura. Escolher o que ler, ouvir, ver, aprender, amar, faz parte da liberdade necessária ao ser humano. Não me sinto livre, quando por causa de qualquer acontecimento banal, como a morte precoce de um ídolo pop, eu seja obrigada a passar meu dia sendo bombardeada com opiniões de uma unanimidade burra de todos os que não sabem o que é liberdade. Que não tem liberdade nem para escolher um assunto, que precisam vender. Vender uma imagem. Vender um produto. Intercalar os anúncios, com alguma notícia para justificar a existência de comerciais, de produtos que como tais notícias não interessam a ninguém.
Ultimamente, as notícias sobre o nível das águas do Rio Negro e do Rio Solimões, parecem até a cotação da bolsa de Nova Iorque: tem previsão e tudo. Hoje vai subir tanto, amanhã vai continuar subindo; tendência de queda a partir da próxima quarta-feira.
Na verdade, já tinha tido uma certa intimidade com a dupla: Rio Negro e Solimões, meu pai, homem culto e íntimo de muitas coisas nos contou ao jantar sobre o encontro das águas dos rios.
Naquele tempo, as famílias se sentavam à mesa para fazer as refeições. Todos os membros deveriam estar presentes. Não importava se estivessem indispostos ou sem fome ou se tivessem brigado uns com os outros. Alguém chamava: O jantar está na mesa! E, em pouco tempo, a família se reunia em torno da távola que podia ser redonda ou não
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Lá em casa meu pai era o chefe da família. Isto queria dizer que ele se sentava à cabeceira, que o jantar só era servido quando ele chegava do trabalho e que o cardápio era composto de acordo com seus gostos e seu apetite. Ninguém questionava e todos respeitavam.
Meu pai falava o jantar inteirinho. Foi jantando que aprendi que branco é a soma de todas as cores, que preto é ausência de luz. Ouvia falar das aventuras do Saint Exupéry, do Fernão Dias Paes Leme, dos canibais do livro do Jean de Lery, ouvia-o declamar com paixão: Castro Alves. “Levantai-vos heróis do Novo Mundo! Andrada! Arranca esse pendão dos ares! Colombo fecha a porta dos teus mares!”.
Nunca fui uma boa aluna, melhor, sempre fui péssima aluna. Era considerada a burrinha da casa e por isso mesmo, ficava o jantar todo calada. Abria a boca para pedir que me passassem o pão, a água, ou qualquer outra coisa. Meus irmãos (os meninos) brincavam ou brigavam. Minha mãe dava ordens: -Pode tirar! -Traga o sal! -Senta direito menino. E minha irmã mais velha, na cabeceira oposta a de meu pai ouvia. Sempre me pareceu que meu pai falava só para ela.
Naquela época, não faltava assunto. Não falávamos de crimes, roubos, escândalos, novelas, programas de show da realidade. Não sei se era porque a imprensa tinha menos meios ou se porque a censura era implacável e não deixava passar nada, fazendo com que os editores e redatores se dedicassem mais ao texto e tivessem mais critério quanto a escolha do assunto.
Evito a censura. Sou contra alguém me dizer o que posso ou não saber, falar, imaginar, aprender. Sou a favor da autocensura. Escolher o que ler, ouvir, ver, aprender, amar, faz parte da liberdade necessária ao ser humano. Não me sinto livre, quando por causa de qualquer acontecimento banal, como a morte precoce de um ídolo pop, eu seja obrigada a passar meu dia sendo bombardeada com opiniões de uma unanimidade burra de todos os que não sabem o que é liberdade. Que não tem liberdade nem para escolher um assunto, que precisam vender. Vender uma imagem. Vender um produto. Intercalar os anúncios, com alguma notícia para justificar a existência de comerciais, de produtos que como tais notícias não interessam a ninguém.
3 comentários:
De certa forma me identifiquei com seu post.
Em casa a gente sempre se reunia para comer, e só comíamos quando todos estavam presentes. Era como uma cerimônia. Depois que me mudei para Salvador, ninguem se reúne nem na hora de comer, cada um come na hora que bem entende. Em meu tempo se não estivesse na mesa na hora da refeição, só conseguiria comer na próxima refeição.
Excelente semana para você!
Lembrancas... mas voltando ao tema principal (será?) censura/auto-censura... bem agora fiquei na dúvida... teus textos sao tao inteligentes, tao "sabidinhos"... aque que sao como aquela peca de Gorki "Os veranistas": cada um tira sua pópria interpretacao dela... Márcia, sou seu fa!!!!!!!!!!
Adorei e me identifiquei com os seus textos. Sentiria-me honrada com uma visita sua no manual do inseguro.com.
Com certeza voltarei.
Bjos.
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