Fim de tarde. Fim de inverno. Fim de agosto. De repente os postes ficam repletos de cupins alados. O carioca já sabe: vem chegando o verão. Na verdade ainda falta pouco mais de uma quinzena para o início da primavera, mas o calor, que ainda não é o senegalês, já nos convida para a praia, para os aplausos ao por-do-sol no arpoador, para tentar dar um fim na barriga caminhando no calçadão regado a muita água de coco.
Fui fazer umas comprinhas, para o jantar, enquanto esperava minha filha sair do inglês. Peguei o que precisava e o que não precisava e entrei na fila para pagar. Na minha frente só tinha um rapaz, muito alto, muito magro. Não tenho certeza se o rapaz era o único que estava à minha frente na fila, me distraí com os cupins do primeiro parágrafo.
Primeiro notei o carrinho do tal rapaz. Fico reparando no conteúdo do carrinho de compras e imaginando como é aquela pessoa. Tem uns tipos de carrinhos que já são previamente classificados por mim: Carrinho de pessoa normal (arroz feijão farinha,batata, frutas legumes, sabonete,água sanitária...). Carrinho de mãe (acrescentando ao anterior biscoitos, balas bombons e iogurte). Carrinho de mulher solteira. Carrinho de solteira em busca de marido (alface, água e cremes). Carrinho de casal novinho (todo arrumadinho, por departamentos e com alguns artigos para casa, paninhos novos uma pá de lixo moderna) E tem uns carrinhos do tipo óvini. Não dá para imaginar o que o consumidor vai fazer com o que está adquirindo. O carrinho do meu antecessor era esquisito. Tinha umas cinco caixas de limonada pronta.
Falei em limonada pronta e vou ter que fazer um parágrafo só para quem compra limonada pronta. Todo mundo sabe como fazer: - me dêem um limão e eu faço uma limonada! Simples assim. Você pode espremer o limão com a mão mesmo, acrescentar água e no máximo usar uma colher para colocar o açúcar e mexer. Quando terminar é só passar uma “aguinha” no copo e na colher. Já a limonada pronta requer embalagem do tipo longa vida, caminhão de entrega, rótulo, propaganda, enfim um montão de coisas que não combinam, em nada, com o rapagão alto, de cabelos desgrenhados (ele tinha um quê de ecoboy) camiseta curtinha e calça jeans deixando aparecer um pedaço da cueca.
Larguei de lado os irritantes cupins e passei a prestar atenção ao ecoboy de um metro e noventa, amante de embalagens longa vida. O rapaz falava bem alto ao telefone enquanto tirava as desnecessárias embalagens longa vida do carrinho, que com certeza o encheriam de orgulho quando fosse separar o lixo doméstico e as ,repito, desnecessárias embalagens longa vida ficariam no quesito ecologicamente correto: reciclagem.
- Na verdade tia, nós só colocamos a lista nessas duas lojas. O nome de uma loja era em inglês e o da outra em francês. –Na verdade tia (ele repetiu, não fui eu desta vez) você pode comprar pelo computador é só acessar o site clicar no produto, dizer o número do cartão de crédito ou pagar pelo boleto bancário.
-Não tia, nesta loja, ainda não colocamos a lista.
Notei que o supermercado todo acompanhava a conversa. As pessoas se entreolhavam e faziam expressões das mais variadas.
-Na verdade tia (rapaz insistente este), o presente, em si, não chega pra gente. A loja nós dá um crédito e nós compramos o que queremos. A fila se entreolhou decepcionada.
Sinto que estou ficando velha muito menos pela obviedade do aspecto físico, das insistentes e malditas cãs, das gordurinhas, do que quando me deparo com alguma modernidade inaceitável. Então o rapaz faz a lista, dá o endereço eletrônico para a tia que compra o regalo e ele pega o dinheiro e compra o que quer! Também me sinto uma anciã quando reclamo de quem compra suco em embalagens longa vida.
-Mas não se sinta obrigada, tia, a comprar nestas lojas, é só uma sugestão. Até porque o tio Tonico é meu padrinho.
2 comentários:
Minha querida, adorei... me vi na sua postagem... eu sempre olho para os carrinhos dos outros e vou imaginando como sao, como sao suas casas... engracado. Este "ecoboy"... olha nem sei o que pensar... mas por aqui eles também estao se alastrando, se multiplicado! he he!
Adorei o comentário sobre a Dona Neyde (passamos um sutao - ela esteve no CTI lá do hospital Silvestre - e eu aqui nervosíssimo! A gente paga um preco alto por esta distancia... )
Biejo
Ricardo
Quando digo que a blogosfera coloca as pessoas em "fase" tenho razão...pois postei hoje sobre um supermercado e descobrindo teu cantinho me deparo com este texto delicioso sobre o assunto. Adorei, vou colocar um link no meu post sobre este aqui.
Beijos e um bom fim de semana.
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