O único céu
Por Fundação José SaramagoAlém da conversa das mulheres, são os sonhos que seguram o mundo na sua órbita. Mas são também os sonhos que lhe fazem uma coroa de luas, por isso o céu é o resplendor que há dentro da cabeça dos homens, se não é a cabeça dos homens o próprio e único céu.
In Memorial do Convento, Editorial Caminho, 43.ª ed., p. 121
(Selecção de Diego Mesa)
In Memorial do Convento, Editorial Caminho, 43.ª ed., p. 121
(Selecção de Diego Mesa)
Livros
Por Fundação José SaramagoComeçar a ler foi para mim como entrar num bosque pela primeira vez e encontrar-me, de repente, com todas as árvores, todas as flores, todos os pássaros. Quando fazes isso, o que te deslumbra é o conjunto. Não dizes: gosto desta árvore mais que das outras. Não, cada livro em que entrava, tomava-o como algo único.
El País Semanal, Madrid, 29 de Novembro de 1998
El País Semanal, Madrid, 29 de Novembro de 1998
Momentos
Por Fundação José SaramagoHá momentos assim na vida: descobre-se inesperadamente que a perfeição existe, que é também ela uma pequena esfera que viaja no tempo, vazia, transparente, luminosa, e que às vezes (raras vezes) vem na nossa direcção, rodeia-nos por breves instantes e continua para outras paragens e outras gentes.
In Manual de Pintura e Caligrafia, Ed. Caminho, 6.ª ed., p. 291
(Selecção de Diego Mesa)
In Manual de Pintura e Caligrafia, Ed. Caminho, 6.ª ed., p. 291
(Selecção de Diego Mesa)
Humanidade
Por Fundação José SaramagoTêm razão os cépticos quando afirmam que a história da humanidade é uma interminável sucessão de ocasiões perdidas. Felizmente, graças à inesgotável generosidade da imaginação, cá vamos suprindo as faltas, preenchendo as lacunas o melhor que se pode, rompendo passagens em becos sem saída e que sem saída irão continuar, inventando chaves para abrir portas órfãs de fechadura ou que nunca tiveram.
In A Viagem do Elefante, Editorial Caminho, p. 223
(Selecção de Diego Mesa)
In A Viagem do Elefante, Editorial Caminho, p. 223
(Selecção de Diego Mesa)
Podemos mais
Por Fundação José SaramagoEsta palavra esperança, com maiúscula ou sem ela, o melhor é riscá-la do nosso vocabulário. Só os exilados e os desterrados que se conformaram com o desterro e o exílio a devem usar, à falta de melhor. Dá-lhes consolo e alívio. Os não conformados têm outra palavra mais enérgica: vontade.
“Esta palavra esperança”, in Deste Mundo e do Outro, Editorial Caminho, 7.ª ed., P. 153
(Selecção de Diego Mesa)
“Esta palavra esperança”, in Deste Mundo e do Outro, Editorial Caminho, 7.ª ed., P. 153
(Selecção de Diego Mesa)
Se nos organizássemos
Por Fundação José SaramagoO mal é não estarmos organizados, devia haver uma organização em cada prédio, em cada rua, em cada bairro, Um governo, disse a mulher, Uma organização, o corpo também é um sistema organizado, está vivo enquanto se mantém organizado, e a morte não é mais do que o efeito de uma desorganização,…
In Ensaio Sobre a Cegueira, Editorial Caminho, 11ª edição, p. 281
(Selecção de Diego Mesa)
In Ensaio Sobre a Cegueira, Editorial Caminho, 11ª edição, p. 281
(Selecção de Diego Mesa)
Dias felizes
Por José SaramagoO excelente artigo de Umberto Eco intitulado “Um blogger chamado Saramago” que havia sido publicado há alguns dias no “La Repubblica”, apareceu hoje no “El País” e aparecerá amanhã nas páginas do “Diário de Notícias”. Esse conjunto de textos breves, baptizado por mim para a edição em livro com o nome discreto de “O Caderno”, nasceu com sorte. Passado já ao castelhano, ao catalão e ao italiano, encontrou agora o melhor dos valedores possíveis na pessoa de Umberto Eco, cuja perspicaz análise vem sabiamente temperada pela graça da escrita e pela subtileza do humor. Não tenho o direito de alongar-me, muito menos comentar o que Eco escreveu. Basta-me a felicidade que sinto. Ao correr de todos estes anos, outros livros meus foram acolhidos com generosidade e simpatia, mas nenhum como este. Sou, neste momento, o mais grato dos escritores.
06 de Outubro de 2009
06 de Outubro de 2009
Despedida
Por José SaramagoDiz o refrão que não há bem que sempre dure nem mal que ature, o que vem assentar como uma luva no trabalho de escrita que acaba aqui e em quem o fez. Algo de bom se encontrará neste textos, e por eles, sem vaidade, me felicito, algo de mal terei feito noutros e por esse defeito me desculpo, mas só por não tê-los feito melhor, que diferentes, com perdão, não poderiam eles ser. Às despedidas sempre conveio que fossem breves. Não é isto uma ária de ópera para lhe meter agora um interminável adio, adio. Adeus, portanto. Até outro dia? Sinceramente, não creio. Comecei outro livro e quero dedicar-lhe todo o meu tempo. Já se verá porquê, se tudo correr bem. Entretanto, terão aí o “Caim”.
P. S – Pensando melhor, não há que ser tão radical. Se alguma vez sentir necessidade de comentar ou opinar sobre algo, virei bater à porta do Caderno, que é o lugar onde mais a gosto poderei expressar-me.
Simples Assim, Lindo Assim. Bjs Paçoca
P. S – Pensando melhor, não há que ser tão radical. Se alguma vez sentir necessidade de comentar ou opinar sobre algo, virei bater à porta do Caderno, que é o lugar onde mais a gosto poderei expressar-me.
Simples Assim, Lindo Assim. Bjs Paçoca
Um comentário:
Parabéns, Paçoca´
é disso que precisamos lá na Oficina. Que nos ensinem a escrever.
Levei um susto quando vi, aqui ao lado, o link para o Depois da Oficina com o sub-título "Literatura Naif". Alguém já escreveu sobre isso antes! Abri para ver. Era a crônica que eu havia postado trinta segundos antes, o tempo de fechar uma página e abrir outra. Céus!
Luigi
Postar um comentário