sábado, 19 de junho de 2010

 


O único céu

Por Fundação José Saramago
Além da conversa das mulheres, são os sonhos que seguram o mundo na sua órbita. Mas são também os sonhos que lhe fazem uma coroa de luas, por isso o céu é o resplendor que há dentro da cabeça dos homens, se não é a cabeça dos homens o próprio e único céu.
In Memorial do Convento, Editorial Caminho, 43.ª ed., p. 121
(Selecção de Diego Mesa)

Livros

Por Fundação José Saramago
Começar a ler foi para mim como entrar num bosque pela primeira vez e encontrar-me, de repente, com todas as árvores, todas as flores, todos os pássaros. Quando fazes isso, o que te deslumbra é o conjunto. Não dizes: gosto desta árvore mais que das outras. Não, cada livro em que entrava, tomava-o como algo único.
El País Semanal, Madrid, 29 de Novembro de 1998

Momentos

Por Fundação José Saramago
Há momentos assim na vida: descobre-se inesperadamente que a perfeição existe, que é também ela uma pequena esfera que viaja no tempo, vazia, transparente, luminosa, e que às vezes (raras vezes) vem na nossa direcção, rodeia-nos por breves instantes e continua para outras paragens e outras gentes.
In Manual de Pintura e Caligrafia, Ed. Caminho, 6.ª ed., p. 291
(Selecção de Diego Mesa)

Humanidade

Por Fundação José Saramago
Têm razão os cépticos quando afirmam que a história da humanidade é uma interminável sucessão de ocasiões perdidas. Felizmente, graças à inesgotável generosidade da imaginação, cá vamos suprindo as faltas, preenchendo as lacunas o melhor que se pode, rompendo passagens em becos sem saída e que sem saída irão continuar, inventando chaves para abrir portas órfãs de fechadura ou que nunca tiveram.
In A Viagem do Elefante, Editorial Caminho, p. 223
(Selecção de Diego Mesa)

Podemos mais

Por Fundação José Saramago
Esta palavra esperança, com maiúscula ou sem ela, o melhor é riscá-la do nosso vocabulário. Só os exilados e os desterrados que se conformaram com o desterro e o exílio a devem usar, à falta de melhor. Dá-lhes consolo e alívio. Os não conformados têm outra palavra mais enérgica: vontade.
“Esta palavra esperança”, in Deste Mundo e do Outro, Editorial Caminho, 7.ª ed., P. 153
(Selecção de Diego Mesa)

Se nos organizássemos

Por Fundação José Saramago
O mal é não estarmos organizados, devia haver uma organização em cada prédio, em cada rua, em cada bairro, Um governo, disse a mulher, Uma organização, o corpo também é um sistema organizado, está vivo enquanto se mantém organizado, e a morte não é mais do que o efeito de uma desorganização,…
In Ensaio Sobre a Cegueira, Editorial Caminho, 11ª edição, p. 281
(Selecção de Diego Mesa)

Dias felizes

Por José Saramago
O excelente artigo de Umberto Eco intitulado “Um blogger chamado Saramago” que havia sido publicado há alguns dias no “La Repubblica”, apareceu hoje no “El País” e aparecerá amanhã nas páginas do “Diário de Notícias”. Esse conjunto de textos breves, baptizado por mim para a edição em livro com o nome discreto de “O Caderno”, nasceu com sorte. Passado já ao castelhano, ao catalão e ao italiano, encontrou agora o melhor dos valedores possíveis na pessoa de Umberto Eco, cuja perspicaz análise vem sabiamente temperada pela graça da escrita e pela subtileza do humor. Não tenho o direito de alongar-me, muito menos comentar o que Eco escreveu. Basta-me a felicidade que sinto. Ao correr de todos estes anos, outros livros meus foram acolhidos com generosidade e simpatia, mas nenhum como este. Sou, neste momento, o mais grato dos escritores.
06 de Outubro de 2009

Despedida

Por José Saramago
Diz o refrão que não há bem que sempre dure nem mal que ature, o que vem assentar como uma luva no trabalho de escrita que acaba aqui e em quem o fez. Algo de bom se encontrará neste textos, e por eles, sem vaidade, me felicito, algo de mal terei feito noutros e por esse defeito me desculpo, mas só por não tê-los feito melhor, que diferentes, com perdão, não poderiam eles ser. Às despedidas sempre conveio que fossem breves. Não é isto uma ária de ópera para lhe meter agora um interminável adio, adio. Adeus, portanto. Até outro dia? Sinceramente, não creio. Comecei outro livro e quero dedicar-lhe todo o meu tempo. Já se verá porquê, se tudo correr bem. Entretanto, terão aí o “Caim”.
P. S – Pensando melhor, não há que ser tão radical. Se alguma vez sentir necessidade de comentar ou opinar sobre algo, virei bater à porta do Caderno, que é o lugar onde mais a gosto poderei expressar-me.



Simples Assim, Lindo Assim. Bjs Paçoca





Um comentário:

Luigi Spreafico disse...

Parabéns, Paçoca´
é disso que precisamos lá na Oficina. Que nos ensinem a escrever.
Levei um susto quando vi, aqui ao lado, o link para o Depois da Oficina com o sub-título "Literatura Naif". Alguém já escreveu sobre isso antes! Abri para ver. Era a crônica que eu havia postado trinta segundos antes, o tempo de fechar uma página e abrir outra. Céus!
Luigi