A pressa de sempre me fez estacionar na vaga do vizinho. Tinha que subir em casa correndo, pegar o envelope que havia esquecido, ligar para o cliente e descer os dez andares que me separam do chão, num minuto. Sabia que não ia dar tempo de ficar manobrando caprichosamente para colocar meu carro no centro da vaga, retinho, como aprendi na auto escola.
A vaga do vizinho do apartamento 203 não precisa de manobra e, então, oprimida pelo relógio, larguei meu carro lá e subi. Fui no quarto peguei o envelope, passei a mão no telefone, confirmei com o cliente e... quando já estava fechando a porta para descer, o interfone tocou.
- D. Márcia, seu Jorge do 203 quer falar com a senhora.
-Meu Deus! Não pode ser outra hora? Estou atrasadíssima.
-Ele está um pouco nervoso, disse que é urgente.
-Então passe logo a ligação seu Antonio.
-Pois não! disse tentando ser educada.
-Eu queria pedir para a senhora tirar o carro da minha vaga, meu filho pode vir me visitar e eu não gostaria que ele não tivesse lugar para estacionar o carro, quando chegasse.
-Pois não, repeti, já estou indo. Não tinha tempo para brigar e de mais a mais estava errada mesmo.
Hoje toda vez que vejo aquela vaga vazia me compadeço. Passados alguns anos do ocorrido, nunca vi qualquer carro estacionado na vaga do 203, nem por engano. Meu lado melodramático me sugere que seu Jorge não faz outra coisa a não ser esperar a visita do filho ingrato, que não dá atenção ao pai, coitado. Ah! mas pode ser também que o filho de seu Jorge tenha trocado o carro por uma moto, ou agora ande de táxi para não correr o risco de não ter onde estacionar o carro quando visitar o pai.
Sei lá pode ser qualquer coisa.
Bom Dia!