quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Mega da virada?
Aqui no Brasil tem um loteria acumulada em 140 milhões de reais. As filas são enormes. Muita gente gastou o que podia e o que não podia para concorrer ao prêmio milionário.
Quando ganhar na loteria, eu vou:
Vou aprender francês, filosofar em alemão, discutir em italiano e ter uma paciência de chinês.
Vou trocar meu relógio inglês, por um paraguaio, que vai ter 30 horas.
Só vou comer queijo suiço e tomar vinho francês, comer pasta italiana, chocolates belgas e tomar um cafezinho brasileiro para a exportação, importado (que ninguém é de ferro).
Vou comprar um piano de cauda e convidar o Nelson Freire para tocar para quem quiser ouvir.
Vou viajar bastante.
Vou fazer a viagem ao centro da terra, as viagens de gulliver,
Vou a terra do nunca.
Vou ver as maravilhas que Marco Polo viu.
Vou fazer grandes navegações e conhecer novos mundos.
Vou navegar do Polo Sul ao Polo Norte com o Amir.
Vou descobrir que a terra não é redonda, tem o formato de um oito deitado.
Vou fazer o caminho de Santiago e encontrar comigo.
Vou fazer uma viagem espacial e encontrar com Deus.
Vou dar muitas festas.
Vou comemorar o fim da guerra do Iraque.
Vou fazer uma enorme feijoada, quando acabar a guerra no morro do alemão.
Vou fazer uma moqueca com o que pescar na Baia de Guanabara.
Vou separar o sujeito do verbo, verbo trair, verbo roubar, verbo matar...
Vou contratar um jardineiro.
Vou mandar flores para os amigos todos os dias.
Vou semear vento e colher brisas.
Ah!!! Vou suspirar mais.
Vou acordar de bom humor, e assim permanecer.
Vou ler um livro por dia.
Vou dar alta a minha psicanalista e mandar flores para ela também.
Vou arranjar um emprego
Vou parar de jogar.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Rio de Janeiro e James Taylor
Hoje vou de James Taylor, que teve o bom gosto de convidar Naná Vasconcelos e Miltom Nascimento!
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
A última
Antes de postar as minhas new years resolution vou deixar esta postagem que já está ficando velha e eu não quero deixar pendências (uma das minhas metas do ano passado). Lembrei-me deste texto depois de assistir ao enorme esforço dos americanos em se sentirem seguros.
Vestiu uma camisa listrada e...
Não sou uma pessoa ligada em moda. Mas tenho notado que ultimamente as listras estão como se diz: up to date. Ontem parada no sinal contei sem exageros umas oito. Não era um sinal da Avenida Rio Branco na hora do almoço e sim o de uma pacata ruazinha transversal em Botafogo que vai do nada a lugar nenhum.
De uns tempos para cá, sempre que vejo uma camisa listrada me lembro da Califórnia, com um certo arrepio na espinha!
Típica adolescente nos anos 80, meu sonho era ir para o velho oeste. Não, em busca do ouro, não! Ia em busca da liberdade, das ondas e dos meninos de cabelos dourados.
Ano passado tive a oportunidade de conhecer a Califórnia. Fui levada pelas minhas filhas adolescentes. Passeamos bastante. Fomos a várias praias, que serviam de cenário dos filmes da minha distante juventude. Oceanside, Carlsbad, Santa Bárbara, Malibú, Santa Mônica. Praias cheias de regras. Regras respeitadas por americanos e até por cachorros, que dispõe de praia exclusiva.
Não tinha visto dia mais perfeito. Nem nas milionárias produções de Hollywood. O por do sol impecável, bem ao estilo americano. Céu alaranjado, gaivotas, jovens de nariz branco jogando vôlei e um friozinho de final de dia...
Na verdade o friozinho de final de tarde era ótimo para mim, que sou um tanto bem fornida. Mas uma das meninas, magra demais, não agüentou e pediu que fosse com ela pegar um agasalho, no carro.
Já de volta, ao terminar de atravessar a rua, ouvi uns gritos. Virei e vi uma camisa listrada, de vermelho e branco, estatelada no chão. Era minha filha que tinha sido atropelada por uma bicicleta em altíssima velocidade. O ciclista berrava muito. Era um desses rapazes americanos, imberbes, loirinhos, de olhos claros e pele cor de lagartixa. Na verdade os olhos do rapazote estavam vermelhos de ódio.
Demorei um tempinho para perceber que o Yanquee não gritava de nervoso.Gritava de ódio. Pensei que ele fosse bater na minha filha. Prevendo que isto podia acontecer, corri e levantei a menina. O imbecil não parava de gritar! Acusava- a de ter estragado a bicicleta de “ten thousand dollars” dele.
Ainda argumentei: - Calma! É uma criança! Pare de gritar com ela.
A menina desmaiou.
O pagador de impostos do primeiro mundo, ainda assim não se sensibilizou. Achou uma brecha na lei. E, já que eu disse para ter calma pois ele estava gritando com uma criança ele se dirigiu a mim e :
- A sra deixa uma criança atravessar a rua sozinha? (americanos tem lei para tudo e provavelmente eu iria direto para Guantânamo, embora preferisse Alcatraz, pelo fato de minha filha ser atropelada na faixa de pedestre, numa ruazinha cuja velocidade permitida devia ser menor do que a velocidade que o pele-de-lagartixa vinha.)
O rapaz possuído não parava de gritar. Não satisfeito de reclamar da bicicleta quebrada , reclamou do short que rasgou e que tinha custado 500 doláres.
Digamos que: Este era meu dia de sorte, e assitindo a cena havia muitos seguranças com rádio na mão. Todos viram que estávamos na faixa e que ele vinha como um doido.
Insistiram muito para que chamássemos o 911, e a polícia e não o deixaram ir embora enquanto eu não disse que o deixassem ir.
Viria embora para o Brasil no dia seguinte e não queria ficar brigando por uma coisa que não precisa de polícia nem de processo. Bastava um simples Sorry! Da parte dele é claro!
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Agradeço a todas as pessoas que puderam tornar melhor o meu dia, cada dia. Agradeço a Deus (sempre acho que eu não merecia tanto!!!), aos amigos (sem eles eu não seria feliz), a meus leitores (pela fidelidade e pela paciência)! E sobretudo agradeço: a quem me serviu um cafezinho com o sorriso no rosto, apesar de tudo! a quem me ajudou com as sacolas, quem plantou o feijão e o arroz que eu adoro comer, quem recolheu o lixo, quem enterrou os mortos, quem curou as criancinhas, quem salvou vidas. Agradeço a quem apesar de tudo não desistiu e foi honesto, íntegro, não roubou. Agradeço a todos aqueles que economizaram água! Aos que não jogaram papel no chão! Agradeço a quem faz trabalhos comunitários e visita asilos e orfanatos e leva algum alento àqueles que sequer lembramos que existe. Agradeço a você!!! Um beijo!!!
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Cinema Copacabana
Minha Avó morava em Copacabana.
Costurava muito bem e eu menina sonhava com todos aqueles bichinhos com receitas da revista burda.
Sonhava com uma enorme pantera, em feltro marrom.
Vovó disse que ia fazer. Ou melhor, ela queria muito fazê-la para mim, eu era o xodó da vovó. Tirou o molde com papel manteiga, era um pantera enorme. Escreveu com aquela letra única que eu ainda posso ver nas capas da revista burda, que infelizmente eu herdei algumas. Vovó colocava sempre o nome dela Cida na capa de todas as revistas para provar para as três filhas que as revistas eram dela. Emprestava a revista e depois ficava cobrando... "Você levou a revista tal e depois não devolveu..." Mamãe estava sempre culpada e eu não gostava disso.
Vovó escreveu com aquela letra única no molde de papel manteiga e cansou... Ela me perguntou você prefere passar a tarde me vendo fazer esta pantera ou prefere ir ao cinema ver "se minha cama voasse" . Vi que vovó estava cansada e quis poupá-la. Respondi que queria ir ao cinema.
É claro que eu preferia vê-la costurando minha tão sonhada pantera de feltro marrom....
Vovó como já disse morava na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, entre a Constante Ramos e a Santa Clara entre dois cinemas Metro e o cinema Copacabana. Bem pertinho do cinema Copacabana, onde fomos ver "Se minha Cama voasse" (Walt Disney).
Não me lembro de nada do filme, até hoje trago comigo esta falta de memória para filmes, atores diretores e música. O cinema funciona para mim, como uma espécie de anestesia ou hipnose, entro vejo o filme e saio sem me lembrar de muito coisa, mas de alguma maneira transformada.
Nunca me esqueço da saída deste cinema. Um tanto intrigante, um corredor escuro com pessoas dando passos de formiguinha para chegar a Nossa Senhora.
Gostei de ter ido ao cinema com a vovó, e... de alguma forma aquela pantera de feltro marrom fiou comigo a vida toda.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
para minha irmã
Acordo no meio da noite, todos dormem. A geladeira ronca.Tento voltar a dormir e não consigo. Meu estomago dói. Lembro do Nelson Rodrigues. Ele acordava de madrugada e dava mingau para a úlcera dele. Não tenho úlcera, não que eu saiba, não ainda. Meu estomago dói e não consigo dormir.
Desisto. Dormir pra quê. Já sonho acordada o dia todo.
Procuro o que fazer. Me culpo. Bem feito! Não tem meditado! Só me resta escrever. Tenho saudades. Minha irmã mora longe! Me mandou ( Começar a frase com próclise? eu sei que está errado e daí?) um email. Que segue:
Estou ficando maluca!
Oi Tico,
Observe que minha irmã, doida, me chama de Tico e meu marido de Joana. Está mantida a opção hetero do casal ainda que ao contrário!
Eu respondo para ela:
Mina,
da próxima vez que o Beto for a Europa eu quero ir junto. E enquanto ele trabalha eu fico por lá flanando, entrando e saindo de museu. Ficando horas em frente ao mesmo quadro! E seremos todos felizes, ou não. Ser feliz sem ter do que reclamar?
Não consegui acessar o Blog que você indicou acho que foi porque vc não colocou o www no endereço. Vou tentar novamente. Os preparativos para o natal? Sempre disse brincando que o natal sou eu. Eu enfeitava a casa, comprava os presentes, fazia a ceia. Este ano ainda não tive tempo de pensar no natal. É tanta histeria por compras que me desanima. Srta 14 tentou me ajudar. Fez uma lista das pessoas que queremos presentear o que podemos dar, quanto podemos dispor para cada um e quanto seria o total! Só isto me deixou exausta!!! Qualquer semelhança com o pai dela não é mera coincidência. Provavelmente Srta 12 vai me ajudar na cozinha. Gulosa como a mãe vive inventando. Adora quebrar ovos e separar a clara da gema! Vai enjoar de tanto quebrar para os fios d'ovos.
E você o que vai fazer? Quem vai passar o natal com vocês?
O Beto levou o que você pediu direitinho? O que você vai querer que eu mande? Se desse para mandar os fios d'ovos...
Um beijo em todos e um especial para o meu Agent e seu cão! Tico.
Simples assim
Desci do táxi e peguei outro, que me levou ao meu destino. Um encontro com os amigos da oficina da crônica. O curso terminou na última quinta-feira, mas nossa vontade de estar juntos não.
A porta estava aberta, fui entrando. Sr L conversava com o Poeta de Paquetá.
Antes de cumprimentar o anfitrião não pude deixar de notar o bom gosto da mesa posta. Em frente a cada lugar tinha uma pastinha de cor diferente com o nome de quem se sentaria ali. A que tinha meu nome era cor de rosa!
Tímida que sou, e não pareço, logo me senti em casa.
Rodeada de quadros, não sabia para onde olhar. Ainda não conhecia a dona da casa ela chegaria mais tarde.
Os outros colegas foram chegando.
Curiosa, mal podia esperar para abrir a pastinha.
Poesias! Não fiquem com inveja que é feio!!!
Sra D. depois de ligar algumas vezes, conseguiu chegar em casa, apesar do dilúvio.
Sra D. é muito acolhedora. A vitalidade e a simpatia me encantaram.
De repente parei de ouvir o que falavam. Uma imensa alegria me invadiu.
Que casal incrível. Os dois são generosos, inteligentes, acolhedores. Quando crescer quero ser como eles!
Sr. L. nos guiou numa espécie de jogral. Onde cada um lia em voz alta uma parte do poema e todos liam em coro o final. Tímida que insisto em ser, nem conseguia ler direito. Mas ficava grata em poder participar, mesmo com o coração a galopes.
Não fosse isso tudo maravilhoso, Sra D. ainda nos brindou com um lanche delicioso, com tudo feito com carinho por ela mesma. Gulosa que sou comi bastante. Com destaque especial para o pão (Sr L. quem o fez) e para a truta defumada, que é dos meus pratos prediletos
Não sabia que tinha feito algo para merecer tamanha alegria.
O Poeta de Paquetá ainda leu algumas poesias onomatopaicas de sua autoria e nós demos boas risadas.
Combinamos novo encontro ( que eu mal posso esperar) e depois de muito vinho chamamos um táxi.
Se ainda não bastasse tanto acolhimento, Sr L. e Sra D. tiveram o bom gosto de nos levar a portaria. Que fofos.
O tempo todo tivemos a companhia de um menino, de 9 anos, filho da "noronha" e que é um encanto de menino.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Ainda nos azuis
O meu avó
A primeira lembrança que eu tenho do meu avô é a de ver minha imagem refletida em seu carro preto, oficial, impecavelmente lustrado por um santo motorista.Eu tinha cinco anos, um cabelo loirinho, franjinha, vestidinho azul turquesa.
A imagem ficava totalmente distorcida como numa casa de espelhos. Volta e meia o motorista passava uma flanela, e eu não me atrevia a tocar no carro.
Depois me lembro de ver vovô chorando e fazendo chantagem emocional: Mamãe histérica resolveu dar educação para todos, para nós três , eu Rodrigo e Duda ao mesmo tempo, e cada vez que errávamos ou riamos com a loucura dela, mais brava ela se tornava, neste dia ela chegou a morder a mão do Rô, entortar o garfo na minha, dar uns tapinhas na do Duda e a Tati ficou rindo dela também, mas por detrás do copo. Vovô chegou e não gostou nada daquilo, disse que ela parasse, e ficou com os olhos, azul turquesa, marejados. Neste dia disse que não se hospedaria mais lá em casa, ficaria no apartamento funcional.
Quando viemos morar no Rio de Janeiro me lembro de estranhar muito e não entender o que vovô queria dizer. Ele dizia que olhássemos com os olhos, e nunca soube que podemos olhar com as mãos, os ouvidos , os pés e o nariz.... basta termos a curiosidade.
Vovô era disciplinado e queria disciplina, e eu pé descalço e desordeira de nascença, nunca o entendia.
Vovô foi injustiçado em seu trabalho e saiu do emprego. Eu que ouvi conversa de adulto tomei as dores de vovô. Vovô e Vovó não entenderam porque eu sempre tão simpática, não quis cumprimentar um certo dr tomé. Que eu tinha entendido, nas conversas de adulto, ser o culpado pela injustiça que fizeram ao meu avô.
Vovô sofreu muito, foi parar até no asilo.
Hoje vou de Roxo!
Não entendo esta verdadeira histeria pela ceia de natal e afins. Os supermercados ficam lotados de gente comprando os mesmos produtos, para fazer a mesma farofada.
Eu como bem o ano todo. Na ceia de natal só é mais especial, porque estou com minha família, porque ceiamos envolvidos pelo espírito de Natal. Meus pais cozinham muito bem e minha mãe arruma a mesa com muito bom gosto. Conversamos, bebemos, comemos, brigamos, vibramos, brindamos. O cardápio nunca é o mesmo. Mas o sabor da ceia se supera a cada ano.
Na verdade nem sempre é ceia. Mamãe não faz o tipo galinha! Ela nos deixa livres para escolhermos onde queremos ceiar ou almoçar (já que todo mundo agora tem uma outra família). Este ano combinamos de fazer um almoço bem tarde no dia 25. Às vezes fazemos um brunch.
Quando sento para escrever sempre acho que vou dominar as idéias, queria continuar escrevendo sobre o azul, mas vi que não ia dar tempo. Então vou colocar o texto que eu fiz sobre a páscoa que é roxo e depois volto para o azul. Lembrei-me do texto devido a histéria das compras, bacalhau, pão para rabanada e panetone, peru, tender, nozes....
A Paixão é roxa e tem cheiro de lírio
O comércio então me deixa apavorada, com o calendário composto apenas de: natal, carnaval, páscoa, dia das mães, namorados, pais, crianças, seguidinho assim e de novo natal cada vez mais em novembro.
Nada me aflige mais do que quando termina o carnaval: já na quinta-feira as lojas especializadas estão repletas de verdadeiras plantações de ovos de páscoa.
Deus, que, como se sabe é Brasileiro, também se encarrega de nos preparar. Ao longo dos dias que separam o carnaval da páscoa vai salpicando na densa mata o roxo da sua Paixão. Quero dizer: nesta época as quaresmeiras ficam repletas de flores roxas, cor que para a Igreja Católica, simboliza a Paixão de Cristo.
Nesta sexta-feira-da-paixão, colocamos as malas no carro e saímos cedinho para passar a Páscoa no sítio.
No caminho, que é lindo, vou pensando no que tenho que escrever.
Vou lembrando das páscoas passadas e dos entes queridos.
- Hoje é dia de jejum com abstinência, advertia-nos, animado, meu sogro, já pensando na comilança que se prepara com muito bacalhau, azeite, batatas e natas. A carne não vale , é dia de bacalhau, uma paixão nacional e uma tradição importada.
Já quase em Pampa-Linda (o sítio); noto que o caminho também está cheio de lírios do brejo e mal posso esperar, para sentir o agradável aroma que esta época, de passagem para o inverno, tem.
Volto às lembranças. Sem esquecer o texto.
Meu pai detesta bacalhau e fica irritado, roxo de raiva, quando sabe que o menu é o maldito peixe demolhado e dessalgado. Repete com desdém que bacalhau não é peixe e sim uma maneira encontrada para conservar sem ter que refrigerar.
Mamãe, que sempre respeitou as vontades dele, nunca serviu um bolinho sequer. E agora que sou eu quem “faço” a páscoa, por tradição, mantenho o jejum com abstinência de carne e de bacalhau.
A cada curva mais quaresmeiras roxas e matas verdes e lírios.
Continuo me lembrando dos queridos e...
Já que citei meu sogro, não vou deixar minha sogra de fora, é mesmo prudente, não quero lhe causar ciúmes.
Naquele ano foram passar a Páscoa em casa de gente muito fina e elegante. Sempre preocupada com a educação dos filhos, Dona Cora preveniu-os:
- Cumprimentem a todos. Ao aceitar algo digam: -sim, obrigado; se, por acaso não quiserem: - não obrigado. Cuidava para não esquecer algo que pudesse comprometer o orgulho de mãe zelosa.
Carlinhos, o filho caçula, ouviu com toda atenção a preleção, era a primeira vez que saía sem as humilhantes calças curtas e não queria fazer feio. Cumprimentou a todos com simpatia, aceitou um copo de refresco, que bebeu com muito cuidado para que nada saísse errado. Foi quando lhe ofereceram bacalhau que o aplicado rapazote improvisou, com toda a polidez:
- Não obrigado! Não suporto nem o fedor!
Dona Cora, é claro, ficou roxa de vergonha.
Desde então, sempre que aqui em casa não gostamos de algo vamos logo dizendo: - não, obrigado! Não suporto nem o fedor! (seguido de uma boa gargalhada).
Duas horas depois, chegamos a Pampa-Linda.
Rex nos esperava como quem espera os ovos da Páscoa.
E, que delícia: quando salto do carro sinto o perfume dos lírios, que são minha paixão.
domingo, 13 de dezembro de 2009
Azul
Aluna do departamento de artes da Puc/Rio, li um anúncio que pedia estagiários para o Projeto Portinari.
Apesar de enorme timidez, e insegurança. Tomei coragem e me inscrevi.
Fiquei tão encantada que esqueci timidez, insegurança ou qualquer impedimento e consegui o estágio.
Lembro como se fosse hoje. Com a mesma alegria.
Era o dia do noivado da minha irmã mais velha. A casa estava em festa. O telefone tocou:
Por incrível que pareça atendi.
- Boa noite: será que eu poderia falar com a Márcia?
Borboletas azuis adormecidas começaram a dançar no meu estômago. Quase não pude suportar.
-É ela quem está falando;
Márcia, sou eu a Regina, queria te dar os Parabéns, você é a mais nova estagiária do Projeto Portinari.
Éramos cinco. Recebemos um bolsa do CNPq, e iríamos fazer parte da equipe responsável pela editoração eletrônica do catálogo raisoné: Candido Portinari-obra completa.
O capitão do nosso navio era João Candido, filho único do pintor.
Um eterno apaixonado, João era muito generoso. Sua paixão era contagiante e o resto dos profissionais também trabalhavam com muito carinho.
Enquanto estagiários nossas tarefas estavam sempre voltadas para o aprendizado. Arrumamos fotos com as obras (+-5000), assitimos a filmes, palestras. Uma riqueza e uma alegria sem fim.
Os outros estagiários foram saindo um a um, e eu, fui ficando.
Muitas vezes eu acompanhava o professor João nas palestras que ele dava. E sempre, toda as vezes que nós estávamos nos preparando para entrar em cena ouvíamos este poema do Drummond.
sábado, 12 de dezembro de 2009
EU QUERO CHEGAR ANTES
Coloquei os dois clipes da mesma música porque gosto do som do primeiro e da timidez do renato russo no segundo.
Também adoro cores! Se hoje o objeto que mais gosto são os livros, antes de aprender a ler já gostava de brincar com lápis de cor.
Uma das memórias mais remotas da minha infância é a de estar sentada na mesa de granito preto da sala de jantar lá de casa desenhando e de ver entrar um ladrão, da babá correr comigo, minha irmã e meu irmão pra fora e de deixar o cacula, recém nascido no quarto dormindo.
Minha mãe fazia unhas na vizinha e veio correndo, acho que não tinha nem calçado a sandália. Sei que não foi mamãe quem tirou o Duda lá do quarto, acho que foi a vizinha manicura.
O ladrão saiu correndo enquanto a rua toda gritava pega ladrão, pega ladrão...
Parece que o rapaz só tinha roubado uns trocados e um vidro de pimenta de um armazém perto de casa.
Não me lembro de ter ficado assustada naquela confusão. Fiquei só observando o corre corre, talvez,com 4 anos eu nem soubesse ainda o que era ladrão.
Eu morava em Brasília e naquela época era este tipo de ladrão que existia por aquelas bandas. Onde a terra é vermelha ( minha cor predileta).
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
São Conrado
Muitas vezes, tenho tanta coisa para escrever que parece que todas as palavras estão numa centrífuga que não consigo desligar. Vejo tudo lá rodando e não consigo pinçar nada. Então enquanto tento arrumar a cachola escrevo como foi meu dia.
Dormi muito mal. Fritei como bolinho de bacalhau a madrugada toda. Acordei no horário de sempre e não meditei.
Acordei com uma dor de estômago insuportável, resultado de excessos da noite anterior.
Mas não há dor de estômago que me faça ficar em casa no meu dia de folga!!! Já havia combinado com uma amiga de levá-la a um shopping (local que eu detesto) mas que com minha amiga, vira um passeio um tanto pitoresco.
Enfrentei os batalhões, os alemães e seus canhões, guardei o meu bodoque e cheguei pontualmente a portaria do prédio da Sra Rosa (vamos chamá-la assim!)
Adoro a minha pontualidade e a dela também!
O shopping fica em São Conrado, mas quando vou até lá me sinto em São Paulo. Você não vê ninguém de bijoux só ouro, nem de "rasteirinha", nem sem maquiagem e o ar Blasé é marca registrada tanto dos vendedores quanto dos compradores.
Sra Rosa e eu adoramos comer, ou por outra: adoramos comer bem.
Sentamos para almoçar num Bistrô. Adoramos Paris. E fingimos estar em Paris sentadas ali naquela tarde de primavera.
Os assuntos são sempre muitos quanto estamos juntas, não paramos de falar nem um único minuto. E como sempre falamos da nossa vida e da dos outros também. É claro.
O bistrô metido a francês e lotado de paulistas, nos oferecia umas pizzas de entrada. Quadradas, com massa fininha, pouco queijo pouco tomate e bem saborosa. Cometi uma heresia e não pedi vinho, tomei coca. Estava dirigindo e: se dirigir não beba. A coca-cola, combinou muitíssimo bem com as pizzas metidas a francesas. Minha amiga que não dirige e pode beber pediu uma cerveja.
O prato principal era meio galeto de um franguinho mínimo, algumas folhas de alface, e uma batata cortada em lascas finíssimas e enformada de modo que ficassem quadradas. Que mania de quadrados! Cada uma que a gente vê!!!
O fraguinho estava ótimo, o molho que vinha numa mínima jarrinha pelando era muito gostoso. Os franceses adoram molho! Moi aussie.
Sra Rosa, comeu rabanadas de sobremesa. Eu confessei a ela que nunca, nunca, tinha comido uma rabanada. Acho engraçadão ver todo mundo suspirar por rabanadas. Também nunca comi um panetone, outra histeria destes calorentos e chuvosos dias de dezembro.
Realmente, a rabanada estava uma delícia e tinha um molho de doce de leite...
Conversamos bastante, rimos muito.
Minha amiga é tarada por sapatos. Conheço tantas pessoas taradas por sapatos que se abrisse uma sapataria poderia frequentar bistrôs franceses, em Paris, o ano todo e nunca dar de cara com uma rabanada, no máximo um "pain perdu", que muito provavelmente eu iria declinar.
Sra Rosa adora sapatos e tinha deixado separado um par. Queria a minha opinião. Na verdade ela queria que eu fosse sua cúmplice. O sapato ficou ótimo e quando já estávamos quase saindo, ela viu um outro azul royal que também ficou ótimo e que ela também experimentou e comprou.
Passeamos bastante e paramos numa sorveteria. Experimentamos um montão de sabores e não escolhemos nenhum, afinal tínhamos acabado de almoçar.
Ainda conversamos bastante na volta para casa, foi uma tarde bastante agradável. Deixei-a em Ipanema para mais umas comprinhas e peguei o caminho de volta para casa.
Mal podia esperar para chegar em casa e no restinho de tarde assistir a um filminho que eu por sugestão de um querido amigo peguei na locadora.
Só srta 12 estava em casa, sinal que veria meu filme sem interrupções.
Sem medo de ser feliz, apertei play.
Obs: Não pretendia falar mal de paulistas, (eles não tem o ar blasé). Quando falei de paulistas me referia a sofisticação!
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Banana Chutney
ingredientes:
Metric/Imperial
450g (1lb) spanish onions peeled and cut into pieces
225g (8oz) stoned dates
6 bananas peeled and cutinto pieces
300ml (1/2 pint) vinegar
100g (4oz) crystllized ginger, sliced
1 teaspoon curry powder
225g (8oz) black treacle
1-2 treaspoon salt
ou se você preferir
American
1lb bermuda onions, peeled and cut into pieces
1 cup pitted dates
6 bananas, peeled and cut into pieces
1 3/4 cups vinegar
1/4 lb sliced candied ginger
1 teaspoon curry powder
1 cup (1/2lb) molasses 1-2 teaspoon salt
Fit the metal blade. Separetely process de onios and the dates until finely chopped. Put both into a enamel-lined saucepan,. Process the bananas to a pureé and ad to the pan. pour over the vinegar and bring to the boil. Reducve the hgeat and simmer until tender, about 165 minutes. Stir in the remaining ingredientes adding the salt last, to see how much is needed.Simmer until the chutney is rich and brown. Pour into sterilized hot dry jars and seal. Makes aprproximately: 1,5 kg/3 lb chutney
Queridos:
Peguei esta receita num livro chamado "The food processor cook book" (Mary Morris&Adrienne Katz) que comprei num sebo, bem pertinho aqui de casa.
O ano passado eu fiz e todos adoraram, este ano pretendo fazer, colocar em potinhos e dar de presente para quem passar o natal comigo. É mesmo uma pena que morem tão longe e não podem ter as lindas, indispensáveis, saborosas e orgânicas bananas que temos em Pampa-linda. Mas caprichem. Obs: Eu não tinha cristais de gengibre e então fiz com o gengibre fresco mesmo! Bjs da Paçoca
Qualquer semelhança...
Um dia na vida de Miranda L.
Eu ando sozinha no meio do vale.
Mas a tarde é minha
Acordou às 4:30 da madrugada e, temendo acordar alguém; perder o silêncio; ou ser solicitada para um copinho d’água; nem acendeu as luzes, subiu, e foi direto para o computador. A quarta-feira demorou, mas chegou. Precisava “arredondar” aquela crônica de qualquer jeito. Releu o texto, tentou consertar a pontuação. Releu mais uma vez, tentou mais uma vez. Distraiu-se e, o preguiçoso sol de inverno, já estava nascendo bem ali atrás do Pão-de-Açúcar.
Preparou o café, levou a filha mais velha, à escola. Na volta aproveitou para parar no supermercado. Deixou as compras no elevador e “interfonou” para Simone (sua nova ajudante) pegá-las. Atravessou a rua e fez o orçamento do material para a pintura do apartamento. Deu uma passadinha nas “Lojas Americanas” pediu ao gerente caixas vazias. Carregou as que pode até em casa. Fez os bolinhos da encomenda (vende bolinhos para negar o ócio). Hoje, não daria tempo de fazer a caminhada e teria que adiar novamente o retorno à natação. Pegou as crianças na escola. Deixou os bolinhos no cliente. Levou uma filha ao vôlei, a outra no inglês. Passou no banco, pagou as contas, pegou dinheiro. Deu instruções para o jantar. Buscou o carro, do marido, na oficina. Abraçou a pastinha com os textos e saiu mais cedo para o “curso de oficina da crônica” (como gosta de chamar).
De volta, a caçula pediu que a ajudasse a estudar História. O marido chegou do trabalho, e ela, ainda às voltas com gregos e troianos, pediu: - Será que você poderia pegar a Carlinha, na casa da Bia, para mim?
- Agora nem isto mais você faz? (respondeu o marido).
Suspirou, pegou chave e documentos do carro e saiu.
No demorado caminho, que separa o Jardim Botânico de Botafogo, àquela hora, coloca o único cedê que tem no carro e despudoradamente acompanha, aos berros, o Chico Buarque. Joga pedra na Geni, ela pode nos salvar, ela vai nos redimir... Eu enfrentava os batalhões os alemães e seus canhões... Morreu na contra-mão atrapalhando o sáaaabado... Amanhã vai ser outro dia... Já no terceiro “eu te amo” chega ao destino, pega a filha e retorna a Botafogo. Brinca com o porteiro. - Seu Antonio, por favor, tranque a portaria e jogue a chave fora. Não deixe que eu saia nem pro meu enterro!
-Terminou por hoje dona Miranda?
- Ainda não, estou quase. Falta o jantar, pensou.
Mesmo bastante cansada, reparou no capricho com que Simone tinha deixado cortados os legumes para a sopa. Aqueceu o azeite, refogou a cebola até quase dourar, acrescentou a abóbora, esperou que ela soltasse toda água, para, só depois, acrescentar o caldo de legumes. Enquanto isto, no forno os cubinhos de pão vão pegando cor.
Serve a sopa, senta-se à mesa e...
- Mãe, você sabe que eu não gosto de sopa de abóbora!
- Não é para gostar filha, é para comer sem gostar mesmo!
O marido (sabe-se lá porque) sente gosto de pimentão na sopa e ameaça não comer. Ela acha graça. Orgulha-se do inabalável bom humor “àquelas alturas do campeonato”
- Esta sopa está sem sal, reclama um terceiro.
Reconhece. Salga suas comidas como pontua seus textos: às vezes sal demais, outras vírgulas de menos!
Toma banho, passa os cremes e veste o bem humorado pijaminha vermelho de bolinhas verdes, que mesmo apertado, não consegue mudar seu estado de espírito. Está feliz. Suspira. Em outros tempos, depois de um dia como o de hoje, além de estar com um humor de cão, não teria ânimo para mais nada. Mas, ainda fez questão de escrever uma cartinha contando as novidades, da vida nova de cronista, para a sua analista que, (provavelmente, impedida pelo Dr. Freud) nunca responde. Escreveu à mão, com todo o capricho. E, finalmente, já deitada fez, orgulhosa, mais um xis na folhinha: Oitenta dias sem tomar o “maldito Tarja Preta”.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Meditando
Minha semana começou hoje terça-feira. Ontem não trabalhei, ou melhor o marido não trabalhou, eu trabalhei na filial. No sítio. Adoraria ser transferida para o sítio. Lá apesar de não ter as facilidades da vida moderna, também não tem as dificuldades. Só para citar um exemplo: em Pampa-linda, não pega nem celular! Eu tenho verdadeiro horror a falar ao telefone. Na verdade tenho horror, medo, é de atender ao telefone. Dependendo de quem está do outro lado, até gosto de falar. Principalmente quando é minha irmã que mora tão longe e que eu vejo tão pouco.
São 9:17 e o maldito já tocou duas vezes: o marceneiro disse que não vinha buscar o material para terminar, ma so ajudante de marceneiro ligou dizendo que pegaria uma parte do material.
Aqui também tem interfone, que também já tocou outras duas vezes. Mas deixa isso prá lá, que são ossos do ofício.
Só queria dizer que minha semana começou hoje, e que hoje comecei a fazer meditação. Um querido amigo me disse que meditando as palavras vão me amar. Ele escreve lindamente. Um verdadeiro talento.
Não sei quanto tempo fiquei sentada ali naquela posição, respirando e pensando na respiração. Pensei num montão de outras coisas também. Mas já é um começo; Preciso me desacelerar para conseguir organizar melhor minha vida, acho que meditar vai me ajudar.
Amanhã, se tudo correr bem e eu conseguir organizar direitinho meu dia (nem sempre depende de mim) vou postar a receita do chutney de bananas com tâmaras que fiz no natal passado. Não esqueci que o Ricardo tinha pedido a receita.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
mau-humor
Mexem em vespeiro. O meu mau-humor é inevitável depois da terceira pergunta. E se não respondo com palavras o faço com faíscas que saem dos meus olhos e não deixam dúvida. É melhor parar com o questionário e me deixar quieta. Ninguém entende que eu penso, logo não respondo. Não consigo pensar e responder ao mesmo tempo. Ao acordar penso em um montão de coisas e respondendo perguntas o meu raciocícinio é interrompido para dizer, onde está o pão, mesmo sabendo que o indivíduo não vai achar!
Mas hoje eu não acordei de mau-humor. Fui ficando.
Não bastasse ver a cara do Arruda e dos 40 ladrões a toda hora na tv. Também tinha o Lula que tudo sabe e na opinião dele, e só na dele, uma imagem não fala mais do que mil palavras ( será que o dicionário dele chega a ter quinhentas palavras?)
Eu não esqueço que além do bordão" nunca antes na história etc e tal", tem o bordão: "Veja Bem".
Sei que sou rabugenta (acho esta palavra linda), mas mesmo assim me acostumei aos escândalos do governo Lula.
Tudo começou. Digo a casa caiu quando Duda Mendonça ( o responsável pela imagem do "lulinha Paz e Amor") foi pego em flagrante numa rinha de galos.
Este escândalo foi pinto, em relação ao que estaria por vir.
Não preciso enumerar aqui enscândalo por escândalo, porque mesmo quem não sabe ler tá careca de ouvir.
O meu mau-humor se deve a indústria da cpi e do impinchamento.
Todas as vezes que surge um novo escândalo sinto um arrepio.
Imagino aqueles enormes volumes de processos, com cópias. Uma quantidade de papel que qualquer dia desses vai acabar com a Floresta Amazônica antes do fim do mandato. Isso sem contabilizar os copinhos descartáveis, para o cafezinhos etc e tal e infinito e além. Toalhas (para secar as mãos) Papel higiênico para quem, bom deixa pra lá. E mais papel para fazer as falsas concorrências de compras disso tudo.
Disse que estou de mau-humor e vou parar por qui, meu teclado não tem culpa de nada.
A candidata Dilma tem sorte, porque as urnas são eletrônicas e não precisam daquele papelzinho para cometer o voto.
Porque me lembrei da Ministra? Acho que foi por causa do mau-humor.
Hoje não vai ter imagem.
"matou a família e saiu para tomar um chopinho"!
4hs e 57 min. Antes de desligar o celular e prestar a maior atenção à penúltima aula do Mestre Felipe Pena (este ano!), mandei um torpedo para o marido que dizia mais ou menos assim:
- Estarei incomunicável nas próximas duas horas e depois irei tomar um chopinho com meus coleguinhas de turma. Srta 14 vai ao curso de inglês e volta às sete. Passo o comando para você, que deve saber se as meninas chegaram bem.
O marido (que trabalha fora) respondeu ironicamente:
- Claro, tomarei conta de tudo, mas antes me diga qual das duas planilhas eu devo abortar primeiro.
Apesar de ter sempre uma resposta na ponta da língua, me contive, e não disse que o que são duas planilhas na conta de quem abandonou o futuro e o passado para cuidar da família.
Não gosto de ser indelicada. E com bom humor respondi: Finge que por algumas horas quem está no Chile sou eu, e assuma o comando. A aula vai começar. Câmbio e desligo.
A aula foi ótima como sempre, a turma caprichou e foi muito bonito ver o quanto cada um se orgulhava de assinar com nome verdadeiro sua crônica.
Saímos para comemorar bem pertinho do curso, num pé sujo, com ótimo chopp. Estavamos animados como colegiais, e como colegiais fizemos mil promessas de encontros e reencontros.
Voltei feliz para casa. Encontrei srta 14 linda, de vermelho e branco, estirada nos almofadões do meu quarto, lendo. O marido dormia. E srta 12 disse que eu a deixei ir dormir na casa de uma amiga.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Penúltima crônica da Oficina de Quinta!
Somos feitos do mesmo que nossos sonhos
“We are such stuff as dreams are made on”
(A Tempestade Shakespeare)
Em casa éramos quatro filhos. Ou melhor, somos: duas meninas e dois meninos, com idades muito próximas. Uma verdadeira escadinha como se diz. Brincamos juntos a maior parte do tempo. Mas nem eu, nem minha irmã gostávamos de futebol. Os meninos faziam questão de contar cada lance dos jogos que assistiam ou das peladas que participavam. Parecia até implicância. Nós duas detestávamos!
-Rodrigo, você achou que eu estava impedido no lance do gol?
-De onde estava não deu para ter certeza, acho que não, mas o juiz tinha outro ângulo de visão.
-E aquele carrinho que o Nelsinho deu no Bira, foi até covardia você não achou? O moleque teve que ser substituído.
-Bonito mesmo foi o gol de placa do Pepe, ele é mesmo um craque!
Cansadas de ouvir resenha esportiva sem nem precisar ligar o rádio, eu e minha irmã resolvemos pregar uma peça nos meninos. Assistimos a um amistoso (acho que era Brasil e Bolívia) e anotamos cada lance do jogo. Os noventa minutos ficaram bem explicados, com comentários e observações dignas de um bom entendedor. Quando os meninos chegaram, eu e minha irmã comentamos o jogo do mesmo jeitinho que eles insistiam em fazer há tempos. Assim “as meninas” lá de casa passaram a entender um pouco mais de futebol E, compreender é também gostar. Não era muito difícil gostar de futebol naquela época. O Brasil era tricampeão, e, apesar da Seleção não contar mais com Pelé, e com outros nomes de ouro da campanha do tri, o time era de craques.
Gosto de palavras, gosto de nomes. Quando acho o nome de alguém sonoro, já simpatizo com a pessoa logo de cara! Os nomes do time da seleção brasileira na copa de 74 eram muito interessantes: Piazza, Rivelino, Marinho Chagas, Carpeggiani. Mas tinha um nome que eu adorava repetir, achava de uma ternura... Mirandinha. Apelido de Sebastião Miranda da Silva Filho. Conhecido por fazer muitos gols e perder outros tantos.
Não escolhi meu pseudônimo por causa do Mirandinha, lembrei-me dele agora que quero revelar o motivo do meu pseudônimo de cronista.
Enquanto escrevia lembrei de outro Miranda. Uma lembrança não! Uma vaga ideia.
Quando adolescente li um romance chamado “O cortiço” de Aluísio de Azevedo. Li todinho, mas não lembrava de nada, apenas que tinha alguém que se chamava Miranda. Procurei um resumo do livro para me certificar e lá estava o Miranda, um vizinho. Gosto de vizinhos. Quando ouço a palavra, imagino uma xícara de açúcar, um pedaço de bolo quentinho, um cheirinho de café passado na hora Será que foi por gostar de vizinhos que não me esqueci do Miranda?
Não consigo entender porque conseguimos recordar algumas coisas e outras não, coisas vividas na mesma hora e no mesmo local. De um romance inteiro, só lembrar de um nome!
Selective memory (memória seletiva) dizia um chefe americano que tive. Se bem que ele se referia a uma funcionária que só se lembrava o que a interessava. Não é assim com todos nós? Confesso que fiquei tentada a reler o livro e ver, o que minha memória será capaz de selecionar agora, passados 30 anos daquela primeira leitura.
Finalmente: escolhi Miranda por causa de uma mulher. Na verdade, quem a batizou foi um homem: Willian Shakespeare.
A primeira peça dele, que eu vi encenada, antes mesmo de Romeu e Julieta foi “A Tempestade” O ano era 1982, e o cenário não poderia ter sido mais bonito. A casa que Henrique Lage mandou construir no final do século 19 para sua amada, a cantora lírica, italiana, Gabriela Bezanzoni. E, que atualmente abriga a EAV (Escola de Artes Visuais do parque Lage). Situada aos pés do morro do Corcovado, no bairro do Jardim Botânico, Rio de Janeiro.
Em torno da piscina, no mesmo local onde a famosa Mezzo-Soprano dava as suas festas, a produção teve o bom gosto de realizar a peça. Sentávamos em banquinhos em torno da piscina. No início, em silêncio total, abria-se um toldo deixando a mostra o céu estrelado. Os atores surgiam de modo inesperado, Fernando descia do telhado agarrado a uma corda com apenas uma das mãos. Caliban, o escravo, pulava do telhado dentro da piscina. Fernando e Miranda faziam a cena de amor dentro da piscina.
Eu, que nesta época sonhava ser atriz, fiquei encantada com a peça, os atores, o cenário e com o nome Miranda.
Achei que cabia muito bem o sobrenome de industrial português, numa mulher:
Dr. Miranda está ao telefone. - A sra vai atender? Soa um tanto formal.
Já: - Miranda, ruborizada, ajeitou a saia. Soa bem mais simpático, e rima com abranda, ciranda, varanda e lavanda!
Não sonho mais ser atriz, mas ainda sonho bastante. E aprender a escrever crônicas é a realização de um de meus sonhos.
Miranda.
(amiga de: Severino Mandacaru, Roberta Bontempo, Noronha, Emanuel Vilanova,
Merrick, Lo Bianco, Aprendiz, Ícaro, os “mutantes” e aluna do Mestre Pena.)