terça-feira, 29 de dezembro de 2009

A última


Antes de postar as minhas new years resolution vou deixar esta postagem que já está ficando velha e eu não quero deixar pendências (uma das minhas metas do ano passado). Lembrei-me deste texto depois de assistir ao enorme esforço dos americanos em se sentirem seguros.

Vestiu uma camisa listrada e...

Não sou uma pessoa ligada em moda. Mas tenho notado que ultimamente as listras estão como se diz: up to date. Ontem parada no sinal contei sem exageros umas oito. Não era um sinal da Avenida Rio Branco na hora do almoço e sim o de uma pacata ruazinha transversal em Botafogo que vai do nada a lugar nenhum.

De uns tempos para cá, sempre que vejo uma camisa listrada me lembro da Califórnia, com um certo arrepio na espinha!


Típica adolescente nos anos 80, meu sonho era ir para o velho oeste. Não, em busca do ouro, não! Ia em busca da liberdade, das ondas e dos meninos de cabelos dourados.


Ano passado tive a oportunidade de conhecer a Califórnia. Fui levada pelas minhas filhas adolescentes. Passeamos bastante. Fomos a várias praias, que serviam de cenário dos filmes da minha distante juventude. Oceanside, Carlsbad, Santa Bárbara, Malibú, Santa Mônica. Praias cheias de regras. Regras respeitadas por americanos e até por cachorros, que dispõe de praia exclusiva.


Não tinha visto dia mais perfeito. Nem nas milionárias produções de Hollywood. O por do sol impecável, bem ao estilo americano. Céu alaranjado, gaivotas, jovens de nariz branco jogando vôlei e um friozinho de final de dia...

Na verdade o friozinho de final de tarde era ótimo para mim, que sou um tanto bem fornida. Mas uma das meninas, magra demais, não agüentou e pediu que fosse com ela pegar um agasalho, no carro.


Já de volta, ao terminar de atravessar a rua, ouvi uns gritos. Virei e vi uma camisa listrada, de vermelho e branco, estatelada no chão. Era minha filha que tinha sido atropelada por uma bicicleta em altíssima velocidade. O ciclista berrava muito. Era um desses rapazes americanos, imberbes, loirinhos, de olhos claros e pele cor de lagartixa. Na verdade os olhos do rapazote estavam vermelhos de ódio.


Demorei um tempinho para perceber que o Yanquee não gritava de nervoso.Gritava de ódio. Pensei que ele fosse bater na minha filha. Prevendo que isto podia acontecer, corri e levantei a menina. O imbecil não parava de gritar! Acusava- a de ter estragado a bicicleta de “ten thousand dollars” dele.

Ainda argumentei: - Calma! É uma criança! Pare de gritar com ela.

A menina desmaiou.

O pagador de impostos do primeiro mundo, ainda assim não se sensibilizou. Achou uma brecha na lei. E, já que eu disse para ter calma pois ele estava gritando com uma criança ele se dirigiu a mim e :

- A sra deixa uma criança atravessar a rua sozinha? (americanos tem lei para tudo e provavelmente eu iria direto para Guantânamo, embora preferisse Alcatraz, pelo fato de minha filha ser atropelada na faixa de pedestre, numa ruazinha cuja velocidade permitida devia ser menor do que a velocidade que o pele-de-lagartixa vinha.)


O rapaz possuído não parava de gritar. Não satisfeito de reclamar da bicicleta quebrada , reclamou do short que rasgou e que tinha custado 500 doláres.

Digamos que: Este era meu dia de sorte, e assitindo a cena havia muitos seguranças com rádio na mão. Todos viram que estávamos na faixa e que ele vinha como um doido.

Insistiram muito para que chamássemos o 911, e a polícia e não o deixaram ir embora enquanto eu não disse que o deixassem ir.

Viria embora para o Brasil no dia seguinte e não queria ficar brigando por uma coisa que não precisa de polícia nem de processo. Bastava um simples Sorry! Da parte dele é claro!


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